Mais uma colaboração do Rodrigo ‘Pioho’ Monteiro para o Rock Master!
Vamos deixar claro logo de começo. Apesar do nome da banda fazer uma referência ao princípio ativo da maconha, a cannabis sativa, o Canábicos não faz apologia ao uso da droga, ainda que o tema esteja presente em algumas de suas letras. No caso de seu novo álbum, “Intenso”, ela está presente na letra de “Eu Não Sei O Que Vai Ser De Mim”, que fecha o trabalho. Voltaremos a essa questão em momentos.
O Canábicos é uma banda formada em Araguari, interior de Minas Gerais, e está na estrada desde 2013, mantendo uma boa produtividade. Foram quatro lançamentos desde aquele ano: La Bomba (2013), Reféns da Pátria (2014), Alienígenas (2015) e esse “Intenso”, lançado no começo do ano. O quarteto é comandado pelo guitarrista Murcego González (que divide seu tempo entre o Canábicos e o Uganga) e pelo vocalista Clandestino. Completam a formação o baixista MM e o baterista Mestre Mustafá.
Com oito faixas, “Intenso” traz um hard rock redondinho, enérgico e, com o perdão do trocadilho, intenso. O som da banda é bastante direto, quase cru, ainda que haja espaço para algumas partes mais virtuosas aqui e ali. O fato de terem optado por letras em português faz com que as mensagens que a banda queira transmitir fiquem ainda mais claras.
Na ocasião do lançamento do álbum – lançado no Brasil pela Monstro Records – o vocalista Clandestino falou a respeito de algumas das faixas presentes no álbum: “‘Intenso’ não é um disco conceitual, tratamos sobre vários assuntos. ‘Fora da Lei’, por exemplo, é baseada na história fictícia de um piloto de fuga. Ouvi essa conversa certa vez e resolvi fazer a letra imaginando como seria a vida desse tipo de criminoso. ‘Rotina’ é uma forma de controle que se justifica pela teoria do Thomas Hobbes de que ‘o homem é o lobo do homem’, sendo também uma crítica a essa forma de viver controlada por horários, calendários e lugares, a vida previsível. ‘Lei do Cão’ é a letra política do álbum, uma crítica ao capitalismo. (…) A faixa título fala sobre a morte, imprevisível e inevitável. Por mais planejada que possa ser uma vida, a qualquer momento tudo pode mudar, o que pressupõe viver intensamente cada momento, já que pode ser o último. Essa mesma ideia permeou todo o processo de produção do álbum. Gravamos tudo de forma bastante intensa, com muita energia e interação entre banda e produtor. ‘Intenso’ acabou sendo uma escolha óbvia para o título do álbum.”
Já sobre a questão de como o consumo de drogas e como ele está presente em “Intenso”, Clandestino disse o seguinte: “A letra de ‘Eu não sei o que vai ser de mim’ é sobre a viagem completa; a curiosidade inicial, a euforia da primeira sensação, a ‘bad trip’ e, no final, a exaustão. Gostamos de nos expressar acerca dos mais diversos temas, e esse com certeza é um deles. Não fazemos apologia, mas somos favoráveis à descriminalização da maconha. Em nosso entendimento, grande parte dos problemas enfrentados pela sociedade estão relacionados às drogas. Os argumentos são muitos e o mundo começou a enxergar que estamos encarando às drogas de forma errada, e que existem consequências brutais. Muita gente morre nessa guerra às drogas! Além disso, o dinheiro vindo do tráfico é responsável pelo financiamento e organização do crime. Gastamos dinheiro com nossos presídios abarrotados de usuários presos por uma lei criada por pessoas despreparadas. É chegado o momento de encararmos o problema e discutirmos o assunto sem misticismo. Esse é um assunto de responsabilidade tanto da sociedade civil quanto dos legisladores.”
Ideologias à parte, o fato é que o Canábicos faz um som muito legal, cheio de groove e boas melodias e vale muito a pena dar uma chance para os caras. Eu mesmo me surpreendi com a qualidade do material da banda.
Agradecimentos: Som do Darma.