Mais uma colaboração do Rodrigo ‘Piolho’ Monteiro para o Rock Master. Os cliques ficam por conta do fotógrafo Alexandre Guzanshe. Os noruegueses do Therion fizeram, na semana passada, uma turnê de quatro shows pelo Brasil. A derradeira apresentação se deu no domingo (13 de maio), na capital mineira, em um evento que teve altos e baixos.
Inicialmente marcado para o Music Hall, na véspera do evento ele foi mudado para o Mister Rock, uma casa bem menor, ainda que com uma boa estrutura. Devido a isso (ou não) houve uma série de atrasos, o que fez com que o primeiro dos três shows da noite começasse após as 21h, quando estava, inicialmente, marcado para as 19h30.
Escolhida para abrir a noite, o The Devil pratica o que a página da banda no Facebook chama de “cinematic metal”. No entanto, a banda faz mais é um metal experimental mesmo. O The Devil é formado por dois guitarristas, um baixista e um baterista. Todos escondem suas identidades por trás de máscaras típicas dos bailes da realeza medieval e seus nomes também são desconhecidos. Os caras não usam nem mesmo pseudônimos genéricos como aqueles dos membros do Ghost ou do Lordi. É tudo anônimo e misterioso mesmo.
A banda faz um heavy metal cadenciado, com toques experimentais e dependem de dois monitores – um em cada lado do palco – no qual são exibidos vídeos retirados de filmes ou documentários as quais a música da banda forneceria a trilha sonora. Eles não dispõem de um vocalista, mas não pode ser considerada 100% instrumental, já que narrações retiradas desses documentários ou filmes fazem as vezes dos vocais nas músicas.
Falando da apresentação em si, o The Devil tenta ter uma pose bastante teatral no palco, mas isso é meio bizarro. Apenas o baixista transita entre ambos os lados do palco. Os dois guitarristas se movem muito pouco e, em diversos momentos, a banda toda fica parada, olhando para frente, enquanto trechos dos filmes ou uma narração rola ao fundo. É uma música estranha e que teve alguns problemas, já que uma das guitarras estava praticamente inaudível – à exceção dos solos – em muitos momentos do show, pelo menos de onde eu estava. No fim das contas, pelos gritos do público, apesar de toda a esquisitice, o The Devil saiu de Belo Horizonte com mais alguns fãs em sua bagagem, ainda que não tenha agradado a todo o público.
Uma troca de palco eficiente e rapidamente executada e entram os suiços do Cellar Darling. Formada por Anna Murphy (vocais e hurdy-gurdy), Ivo Henzi (guitarra) e Merlin Sutter (bateria) reforçada por Nicolas Winter no baixo, a banda veio ao Brasil para a divulgação de seu primeiro álbum, “This is the Sound” e ele constituiu a espinha dorsal da apresentação do grupo, que levantou o público até então morno no Mister Rock.
A exemplo do The Devil, os membros do Cellar Darling também não se movimentaram muito no palco devido ao espaço restrito, que já tinha a bateria do Therion ocupando um bom pedaço dele. Isso, no entanto, não atrapalhou em nada o show da banda, bem mais energético e com uma presença de palco e carisma bem superiores ao do The Devil, devido às características explicitadas acima. Em cerca de 45 minutos de show, o Cellar Darling passou bem seu recado e deixou o público no ponto para a atração principal.
Não demorou muito para que a atração principal adentrasse o palco aos poucos tocando “Theme of Antichrist”, música que, curiosamente, fecha “Beloved Antichrist”, o ambicioso álbum triplo lançado pelo Therion recentemente. Liderados por Christofer Johnsson (guitarra), um a um os demais membros da banda que atualmente conta com o guitarrista Christian Vidal, o baixista Nalle “Grizzly” Påhlsso, o baterista Sami Karppinen e com os vocais de Thomas Vikström, Linnéa Vikström e Chiara Malvestiti, foram adentrando o palco, o que já colocou o público presente, que há tanto esperara por eles, em polvorosa.
Mesmo já entrando em campo com o jogo ganho, para usar uma metáfora futebolística, o Therion fez um grande show. Toda a banda demonstrou bastante presença de palco e carisma, transmitindo grande energia para o público, que também fez a sua parte. Dentre os membros do Therion vale a pena destacar o contraste entre Linnéa Vikström e Chiara Malvestiti. Enquanto a primeira, vestida quase que como uma motoqueira, pula, grita, chuta, corre e dança, Chiara adota uma postura mais discreta, deixando que sua voz faça todo o trabalho. Não que a voz de Linnéa não seja boa, muito antes pelo contrário, é apenas interessante ver esse contraste em cima do palco. Já Thomas foi o que mais se dirigiu ao público, exibindo o carisma que já era conhecido daqueles que estiveram no show acústico realizado pela banda por aqui em 2015.
Em quase duas horas de show, o Therion soube variar bem o repertório, tocando tanto músicas do seu novo álbum como algumas das preferidas dos fãs. Alguns dos pontos altos do show foram “The Blood of Kingu”, “Nifelheim”, “Cults of the Shadow” e, claro, “To Mega Therion”, cantada em uníssono pelos presentes no Mister Rock e que fechou a primeira parte da apresentação. Sem muitas delongas, a banda logo voltou para tocar mais uma e encerrar de vez sua passagem pelo Brasil.
No fim das contas, como dito no primeiro parágrafo, este foi um evento de altos e baixos. Se, por um lado, o atraso excessivo para o começo das apresentações irritou parte do público, por outro as bandas fizeram sua parte, foram extremamente profissionais e entregaram aquilo que aqueles ali presentes esperavam delas.
Com relação ao público, é o mesmo que escrevi em resenhas anteriores. Enquanto quem estava lá fez a sua parte e recepcionou as bandas de maneira calorosa – mesmo o The Devil foi alvo de gritos positivos e aplausos ao fim de sua apresentação – o fato é que, novamente, ele foi insuficiente em termos quantitativos, tanto que esse foi um dos motivos para a alteração do local do evento. O que é algo a se lamentar, já que podemos esperar que aconteçam cada vez menos shows de bandas de menor porte por aqui no futuro próximo.
O Rock Master agradece à EV7 Live através de Eliel Vieira pela parceria que nos permitiu realizar mais essa cobertura.
The Devil
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