Olha aí mais uma colaboração do Rodrigo Monteiro para o Rock Master!
O termo New Wave of British Heavy Metal, criado pelo jornalista musical Geoff Barton, que traduzido, significaria algo como “Nova Onda do Metal Pesado Britânico”, foi usado para nomear o movimento musical que começou na Terra da Rainha na segunda metade dos anos 1970. Naquela época, o Reino Unido – e o mundo – viu o surgimento de diversas bandas que traziam o heavy metal de volta aos holofotes, aproveitando a então decadência do punk rock.
Diversas bandas com uma sonoridade semelhante, ainda que não cópias umas das outras, foram colocadas sob o termo NWOBHM. Enquanto algumas transcenderam o movimento e alcançaram bastante sucesso fora da Inglaterra tais quais Venom, Saxon, Motörhead, Def Leppard e Iron Maiden, outras, ainda que com um bom trabalho, não conseguiram a mesma repercussão. O Demon, infelizmente, é uma delas.
Formada em 1979 pelo vocalista Dave Hill e o guitarrista Mal Spooner em Leek, Staffordshire, Inglaterra, em 1981 o Demon já era um quinteto, contando com Les Hunt (guitarra), Chris Ellis (baixo) e John Wright (bateria). Seu primeiro álbum, “Night of the Demon”, relançado por aqui recentemente pela Hellion Records, é uma prova do ditado que diz que não se deve julgar um livro (ou, nesse caso, um disco) pela capa. Se os nomes da banda, do álbum e a arte de sua capa dão a entender que essa é uma obra de heavy metal do exemplo daquele praticado pelo Venom, nada poderia estar mais equivocado.
O fato é que “Night of the Demon” é o resultado típico de uma banda ainda procurando que direção seguir e isso fica bem claro aqui. Se fosse um vinil, poderíamos dividir “Night of the Demon” claramente em dois lados: no lado A, encontramos músicas tipicamente NWOBHM, com temática sobrenatural, peso, refrões grudentos e todas as características caras ao heavy metal britânico daquela época; já o lado B traz uma sonoridade mais voltada para o hard rock e o rock clássico dos anos 1970, com uma faixa apenas com todo o clima que seria popularizado no hard rock dos anos 1980.
“Night of the Demon” começa com a intro “Full Moon” e emenda na faixa título. Ela traz grandes coros, belos riffs de guitarra e uma letra que combina bem com a aura que a banda quer trazer; “Into the Nightmare” vem a seguir e tem um andamento menos acelerado, mas bom solo de guitarra e um dos melhores refrãos de todo o álbum; “Father of Time” é mais melodiosa, mais lenta, com letras apocalípticas bem adequadas. E a parte “pesada” do álbum acaba aí.
O que seria o lado B do álbum começa com “Decisions” e ela mostra uma virada no som do Demon, que agora traz músicas mais voltadas para o rock clássico e o hard rock. Se o lado A traz uma atmosfera mais sobrenatural nas letras, o resto do álbum é bastante “alegre”, com músicas bem pra cima, refrões grudentos e uma sonoridade elaborada, mas nada virtuosa. O destaque para esse lado do álbum vai para “Ride the Wind” e “One Helluva Night”, que fecha a bolacha. Essa versão remasterizada traz ainda quatro faixas bônus: “Wild Woman”, “On the Road Again”, a primeira versão de “Liar”, presente no que chamamos de lado B do álbum e uma nova mixagem para “Night of the Demon”.
No geral, “Night of the Demon”, como dito acima, é um álbum meio desconjuntado, mas isso não é ruim já que, no geral, ele traz uma sonoridade bem agradável e mostra o potencial da banda.
No ano seguinte o Demon voltaria ao mercado com seu segundo álbum – aquele que, muitos dizem, determinam se a banda será um sucesso ou um fracasso. No caso do Demon “The Unexpected Guest” mostra que todo o potencial apresentado em sua estréia não havia sido por acaso. O segundo esforço da banda, inclusive, mostra bem mais maturidade e uma direção mais clara do que seu primeiro trabalho. Tanto que é seu melhor trabalho em termos comerciais, alcançando a posição 47 nos rankings de vendas de álbuns de rock no Reino Unido naquela época.
A exemplo de “Night of the Demon”, “The Unexpected Guest” começa com uma intro, aqui intitulada “An Observation”, que é seguida por uma das melhores e, certamente, mais conhecidas músicas da banda, “Don’t Break the Circle”, que acabou alcançando novas audiências quando os alemães do Blind Guardian fizeram uma versão dela para seu álbum “Follow the Blind”, de 1989.
“The Unexpected Guest” é um álbum mais sólido e consistente do que seu predecessor. Aqui os membros do Demon parecem mais seguros no que diz respeito à direção que querem seguir com sua sonoridade, abraçando de vez o heavy rock do final da década de 1970, ainda que haja uma ou outra faixa que tenta ser mais comercial aqui. Nada, no entanto, que tire o brilho do trabalho dos caras.
Uma outra diferença de “The Unexpected Guest” para o seu antecessor é que esse é um álbum semi-conceitual, na medida em que todas as músicas tem letras cujo tema está ligado ao lado sombrio da mente humana e lidam com loucura, possessão, perda da realidade e, em um nível mais espiritual, reencarnação. O álbum também é mais bem produzido do que seu anterior e dá um destaque maior à voz distinta de Dave Hill e à guitarra de Hunt. Este é um álbum bem mais voltado para a guitarra, ainda que os demais instrumentos não passem despercebidos e cumpram bem sua função.
Músicas como “The Grand Illusion”, “Have We Been Here Before”, “Sign of a Madman” e “Deliver Us from Evil” são alguns dos destaques do álbum e resumem bem o estilo geral do Demon até então: bons riffs, solos bem encaixados e refrões grudentos. É uma pena que, depois de “The Unexpected Guest”, a banda não tenha mantido a mesma pegada e nunca tenha alcançado o sucesso comercial, dentro do cenário hard rock/heavy metal, que poderia.
A versão de “The Unexpected Guest” relançada por aqui pela Hellion Records traz quatro faixas bônus, a saber: uma versão remixada de “Don’t Break the Circle” e versões outake para “Have We Been Here Before”, “Victim of Fortune” e “Strange Institution”.
Tanto “Night of the Demon” quanto “The Unexpected Guest” são belos esforços do Demon e tem todo o potencial para agradar os fãs de um hard rock/heavy rock no mesmo estilo de bandas como UFO, Deep Purple e Black Sabbath.
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