Olha aí mais uma colaboração do Rodrigo “Piolho” Monteiro para o Rock Master!
O começo da década de 1980 foi um período bastante fértil para o heavy metal mundial. Graças ao surgimento, no final da década anterior, do NWOBHM na Inglaterra, o heavy metal, o hard rock e o heavy rock voltaram a ter um espaço que havia sido perdido para o punk e a música disco. A repercussão de grupos como o Judas Priest, Iron Maiden, Saxon e Motörhead, só para mencionar alguns, impulsionaram o surgimento de bandas do mesmo estilo por todo o mundo.
Um dos países onde isso mais seria sentido foi a Suécia. O país que, anos depois, apresentaria à cena bandas como Europe, Hammerfall, Opeth, At The Gates, Bathory, Evergrey, Talisman e In Flames, dentre tantas outras, começava a mostrar seus pioneiros no começo da década. O Overdrive, apesar de ser um nome considerado “menor” em termos de repercussão atualmente, foi uma delas.
A banda foi fundada em 1980 e, depois do lançamento de um EP, “Reflexions”, logo começou a fazer shows em sua terra natal. Um desses aconteceu no festival Rockslaget, no qual o grupo dividiu o palco com nomes como Tygers of Pan Tang e Simple Minds, em um evento que durou três dias. Na ocasião uma emissora de rádio local, a Radio Blekinge, registrou todo o festival e, em 2018, o Overdrive resolveu resgatar esse registro histórico e lançá-lo em formato de CD.
“The Battle of Rock” acaba se tornando o registro histórico de uma banda em formação, já que essa apresentação aconteceu entre a gravação do EP e do primeiro álbum do Overdrive, “Metal Attack”, de 1983. Na época a banda contava com Pelle Thuresson (vocal), Janne Stark e Kjell Jacobsson (guitarras), Kenth Ericsson (baixo) e Kenta Svensson (bateria). Destes, apenas Kenth Ericsson não faz parte da formação atual do grupo.
A performance do Overdrive no Rockslaget foi gravada originalmente em uma fita k-7. Essa gravação foi limpada e masterizada da melhor forma possível. No final das contas, ela acabou ficando com a qualidade de um bootleg. Um bootleg decente, é verdade, mas, ainda assim, a qualidade da captação do som não é das melhores e, ao longo do álbum, tudo parece bastante abafado. Isso faz com que “The Battle of Rock” seja um registro ainda mais autêntico e honesto, já que não esconde as pequenas falhas e deslizes cometidos pela banda durante sua apresentação.
Em termos musicais, o Overdrive do começo dos anos 1980 fazia um heavy metal/heavy rock bastante enérgico e com a dose de qualidade instrumental esperada para bandas adeptas a esse tipo de estilo musical, com o calcanhar de Aquiles na figura de Pelle. O vocalista se esforça e até consegue algumas boas performances mas, no geral, fica abaixo do nível de seus compatriotas. Seu desempenho em músicas como “Can’t Get Enough”, por exemplo, é bem abaixo do esperado. Por outro lado, Janne e Kjell compensam com riffs e solos bem encaixados que podem percebidos em músicas como “Confused”, “Doomwatch”, na instrumental “Battle of Rock”, na grudenta “You’ve Got What It Takes” e em “Tonight”. Esta última, inclusive, é bastante rara, haja vista o fato de nunca ter sido gravada em estúdio pela banda.
O fato é que a qualidade da produção do álbum não reflete, nem de longe, o potencial da banda. Mesmo com um deslize aqui e outro ali, já em 1982, o Overdrive exibia um talento comparável aos grandes nomes da cena na época. Escutem músicas como “Midnight Cruiser” e “Luck Lady” e terão uma ideia do que digo.
Lançado por aqui pela Hellion Records, “The Battle of Rock” é um álbum quase que obrigatório para os fãs do Overdrive (cujo último álbum, “The Angelmaker’s Daughter” foi lançado em 2001) e uma boa opção para todos aqueles interessados pelos primórdios do metal sueco em geral. Mesmo, ou talvez, principalmente, com todas as limitações apresentadas pela forma como ele foi produzido.
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