Olha aí mais uma colaboração do Rodrigo ‘Piolho’ Monteiro para o Rock Master!
Na década de 1980, Belo Horizonte tinha uma das mais fortes e prolíficas cenas do heavy metal nacional. A razão para isso não tem uma única explicação. Pode ter sido devido à influência da NWOBHM; do movimento do death/thrash metal norte-americano (especialmente da Bay Area nos Estados Unidos); de fatores internos que ocorriam no Brasil, já que os anos 1980 marcaram a transição entre o regime militar e aquele que permanece até hoje; ou, ainda, pela juventude local querer se rebelar da estrutura tradicionalista que sempre permeou a cidade, com sua aura de “roça grande”. O fato é que Belo Horizonte deu à luz nomes como WitchHammer, Chackal, Sepultura, Sextrash, Sarcófago e Overdose, dentre outros. Algumas destas bandas, especialmente Sepultura e Sarcófago, alçaram voos maiores; outras, apesar de reverenciadas nacionalmente, não conseguiram a mesma repercussão fora do país. O Overdose é uma das vítimas dessas injustiças do mundo da música.
Formada em meados de 1983, a banda apresentou seu trabalho pela primeira vez no agora lendário split “SéculoXX/Bestial Devastation“, ao lado do Sepultura. Na época, a banda investia em um som mais próximo ao power metal/heavy metal tradicional. Após mais três lançamentos transitando nesse estilo (“Conscience…“, de 1987, “You’re Really Big” de 1989 e “Addicted to Reality” de 1990), o Overdose resolve que é necessário adicionar mais peso e crueza a seu som. O resultado disso é este “Circus of Death” lançado em 1992 e relançado este ano pela Cogumelo Records em um trabalho muito bem feito.
Quando da gravação de “Circus of Death” o Overdose contava com Bozó nos vocais (aqui creditado como B.Z.), Claudio David e Sérgio Cichovicz nas guitarras, Fernando Pazzini no baixo e André Marcio na bateria. O que a banda apresenta aqui é um thrash metal convencional, mas nem por isso medíocre ou datado. Muito antes pelo contrário, ao longo das nove faixas presentes em “Circus of Death” o que se vê é uma música cheia de energia, com riffs de guitarra bem encaixados, solos que transpiram o clima old school do estilo, algumas introduções bem inspiradas, uma cozinha competente e o vocal de Bozó lembrando muito o de Phil Anselmo (ex-Pantera), ora cantado, ora gritado. É o thrash metal furioso e crú ao qual os fãs do estilo estão tão acostumados e o qual tanto valorizam.
“Circus of Death” é um trabalho tão homogêneo e consistente que fica difícil eleger destaques. Se fosse praticamente forçado a fazê-lo, eu diria que “Violence” (que abre o petardo), “The Healer“, “The Zombie Factory“, “Profit” e “Children of War“, que fecha os trabalhos, poderiam assumir tranquilamente este papel.
O relançamento de “Circus of Death” veio bastante caprichado. Além do álbum remasterizado em uma embalagem digipack que traz a arte de capa original, a Cogumelo Records ainda incluiu nele um DVD bônus com dois shows da banda, um realizado no Circo Delírio, em Brasília (1992) e o outro na antiga casa de shows Champagne, em Belo Horizonte em 1993. Ambos tem qualidade de gravação bem inferior ao que estamos acostumados a ver hoje, já que tem uma câmera só e o áudio não é lá essas coisas. No entanto, vale pelo registro de ver uma das maiores bandas do metal brasileiro de todos os tempos em ação ao vivo.
Antes de encerrarmos, o Rock Master tem o prazer de anunciar que fechou uma parceria com a Cogumelo Records, uma das principais gravadoras de heavy metal do país. Esta resenha é o primeiro produto desta nova relação, que gerará grandes frutos daqui em diante.
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