Yngwie Malmsteen é uma daquelas figuras do mundo da música que se encaixam na categoria de “ame ou odeie”. Um dos guitarristas mais influentes de sua geração, Yngwie foi um dos principais responsáveis por trazer a estrutura da música clássica para o rock and roll, criando um jeito de tocar guitarra que abusa da virtuose, da técnica e da velocidade. Seus críticos mais tenazes costumam dizer que Yngwie prioriza tudo isso ao invés de tentar transmitir algum sentimento com seu instrumento. Isso faz com que quem goste de seu estilo de tocar o reverencie a cada novo trabalho; já quem discorda de suas opções estilísticas não pode sequer escutar a menção de seu nome para detonar qualquer produto lançado no mercado. E olha que estou deixando de lado aqui, porque não é relevante, outros motivos relacionados à rejeição à Malmsteen, especialmente relacionadas às declarações no mínimo polêmicas que vira e mexe ele solta.
Independente disso, o fato é que Yngwie tem uma carreira bastante bem sucedida e já escreveu há tempos seu nome na categoria dos grandes guitarristas da história do rock/heavy metal. Talvez por isso, ele tenha decidido fazer uma coisa diferente em seu 21º disco solo. Intitulado “Blue Lightning”, em tese, ele deveria prestar homenagem aos grandes nomes do blues que foram grandes influências para quase todo músico de rock and roll da geração de Yngwie (seu primeiro álbum, “Rising Force” é de 1984). Para fazer essa homenagem, Yngwie assumiu os vocais e todos os instrumentos, exceto a bateria, que ficou à cargo de Lawrence Lannerbach, escolheu músicas de artistas e bandas como Jimi Hendrix, Deep Purple, ZZ Top, The Beatles, The Rolling Stones e Eric Clapton e adicionou quatro músicas originais.
O resultado que temos aqui é um álbum cujo título pode ser completamente ignorado, já que de blues ele tem muito pouco. À exceção de “Sun’s Up, Top’s Down”, que tem uma pegada mais blueseira, o resto do álbum é Yngwie sendo Yngwie. Isso significa, basicamente, que mesmo respeitando as estruturas básicas das músicas das quais faz versões, Malmsteen não resiste à tentação de imprimir a sua assinatura em cada uma delas. E isso significa uma guitarra tecnicamente bem tocada, à velocidade de 10 notas por segundo, mesmo em músicas onde isso não combina muito. Particularmente eu gostei de algumas de suas incursões nesse sentido, como em “While My Guitar Gently Weeps” (que, aqui, não tem nada de gentil, como sugere o título) e em “Foxey Lady”, mas é claro, desde a primeira nota da faixa (original) que abre e dá título ao álbum, que a parada de Malmsteen não é, nem de longe, o blues. Yngwie faz é um rock beirando o heavy metal onde impera a influência do neo-clássico. Essa é uma de suas marcas registradas e ele, como se pode perceber há tempos, não consegue fugir dela, por mais que tente,
Se com “Blue Lightning” Yngwie Malmsteen tentou apelar a um público mais geral e aumentar o alcance de seus trabalhos, este foi um esforço fracassado, já que duvido muito que fãs das bandas originais, em geral, gostem da forma como ele trabalhou as músicas presentes no álbum. Já seus fãs, tanto os mais devotos quanto aqueles curiosos para saber o que Malmsteen aprontou dessa vez , certamente apreciarão o resultado apresentado aqui.
“Blue Lightning” foi lançado por aqui no ano passado pela Hellion Records em uma embalagem slipcase caprichada e com um encarte bem completo.