Os anos 1980 foram uma época efervescente para o rock nacional. Belo Horizonte, obviamente, não seria exceção a esse movimento cultural. Muito antes pelo contrário, com o apoio da gravadora Cogumelo Records, a capital mineira revelou para o país – e o mundo – nomes que seriam imortalizados no rock e no metal, tais quais Sepultura, Sarcófago, Overdose, Mutilator e tantos outros.
Mesmo sendo aparentemente dominada pelo heavy metal, a cena do rock belorizontino era bastante plural e havia espaço para toda banda que apresentasse material de qualidade. Foi aí que surgiu o Kamikaze. O quarteto formado por Guilherme Bizzotto (vocal), Reginaldo Silva (guitarra), Gustavo Duarte (baixo) e João Guimarães (bateria) optou por trilhar um caminho diferente de seus conterrâneos e investir em um rock tipicamente brasileiro, cantado em português e tratando de temas relevantes à época.
A banda apresentou seu primeiro trabalho ao mundo em um EP homônimo lançado em 1986, que logo alcançou as ondas do rádio com “Machado de Guerra”. Quatro anos depois, a banda lança seu primeiro álbum completo, via Cogumelo Records, onde alterna músicas mais “pesadas” (por falta de um termo melhor) com algumas baladas, tudo funcionando de maneira harmônica. Aqui destaco “Guerra do Pó” e “Blues de Ninguém”; já em 1994 o quarteto se reuniu para produzir um novo material, dessa vez contando com a parceria do renomado letrista Chico Amaral, famoso por seu trabalho com o Skank. Daí saíram pérolas como “Meia Noite”, “Nunca Se Viu” e “Não Há Lugar”.
Visando recuperar a história do Kamikaze a Cogumelo, em parceria com Voice Music e Classic Metal lançou recentemente “Kamikaze”, um álbum especial trazendo todo o material da banda em ordem cronológica inversa. O CD começa com os registros de 1994, passa pelos de 1990 e encerra em 1986. Isso, no entanto, não causa estranheza, dada à homogeneidade e qualidade do Kamikaze. São 17 faixas onde não se sente, em nenhum momento, que algum material tenha sido incluído ali apenas para ocupar espaço. O quarteto formado por Guilherme, Reginaldo, Gustavo e João se mostra bastante entrosado nas três épocas diferentes, fazendo um rock brasileiro digno de bandas mais longevas, como Nenhum de Nós, Biquini Cavadão e Barão Vermelho, mas trazendo um diferencial em relação a elas, que faz seu som, pelo menos para este que vos escreve, mais atraente. O que nos faz perguntar o motivo de, diferente das acima citadas, o Kamikaze não estar na ativa, participando de festivais e mostrando seu som para as novas gerações.
A exemplo de seus produtos mais recentes, a Cogumelo caprichou em “Kamikaze”, que vem em formato slipcase, com encarte contendo todas as letras das músicas presentes no álbum e um pôster 36×36 duplo. Esse é um daqueles álbuns que todo fã do rock nacional, especialmente aquele produzido nos anos 1980, deveria ter em posição de destaque em sua coleção.
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