Rock Master entrevista Daniel Siebert

Natural de Jaraguá do Sul (SC) e espiritista de coração, Daniel Siebert é daqueles artistas que parecem ter nascido com a música correndo nas veias. Ainda na adolescência, formava suas primeiras bandas e, pouco depois, embarcou numa década de experiências no exterior. Desde 2010, dedica-se profissionalmente à música, trilhando uma trajetória marcada pela versatilidade e autenticidade.

Cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical, Daniel construiu um repertório que desafia rótulos e cruza fronteiras sonoras. Com uma voz marcante e alma roqueira, ele transita entre o português e o inglês, sempre com sensibilidade e inovação. Além de sua sólida carreira solo, que já conta com diversos lançamentos, incluindo o recente Nosso Legado” (2025), Daniel também empresta seu talento à frente das bandas Machado de Einstein e Area Forty Seven.

Ele conversa conosco sobre sua trajetória, influências, espiritualidade e o que ainda vem por aí nesse caminho musical que parece longe de desacelerar.

Rock Master: Você passou uma década fora do Brasil. Quais as diferenças perceptivas entre os cenários musicais estrangeiros e nacional?

Daniel Siebert: Eu passei 10 anos fora, na minha adolescência. Faz 20 anos que voltei, então eu não saberia dizer exatamente como está o cenário hoje. Tenho alguns amigos que tocam na noite por lá, mas acredito que a correria seja parecida, com os mesmos desafios. Talvez lá seja um pouco mais fácil por ser primeiro mundo e pela qualidade dos equipamentos. Também acho que depende muito da cidade. Se for capital, com certeza tem mais opções e uma cena maior do que cidades do interior. Acredito que em todos os países seja assim.

RM: Quais os principais desafios de construir uma carreira no pop rock com letras quase que exclusivamente em português? Dada a experiência no exterior, não faria mais sentido compor músicas em inglês, para atingir um público mais abrangente?

DS: Eu costumo compor tanto em português quanto em inglês. Gosto bastante de escrever em inglês justamente por poder atingir um público maior. Mas, ao mesmo tempo, como moro no Brasil, as canções em português têm mais impacto — as pessoas se identificam de forma mais direta. Em todos os meus álbuns, desde o Novo Rumo com a banda Machado de Einstein até os da minha carreira solo, eles têm algumas músicas em ambos os idiomas. No meu projeto de metal, chamado “Area Forty Seven”, a gente compõe praticamente 80% em inglês, justamente pra tentar ter uma abrangência maior, já que o nicho do metal é mais forte no exterior do que no Brasil.

RM: Quais foram as principais influências, tanto na parte das letras quanto no que diz respeito às composições em si, para “Laços Indestrutíveis”?

DS: “Laços Indestrutíveis” foi um álbum mais pessoal. Ele surgiu de uma dor, de um momento muito difícil que passamos na família. E acima de tudo é um álbum sincero. Tentei passar ali exatamente o que eu sentia e o que eu gostaria de ouvir naquele momento. Foi um divisor de águas, eu diria. O álbum foi muito bem gravado e produzido tanto quanto à qualidade das canções e letras. Quanto às composições, eu procuro sempre separar um momento do dia, ou dia sim, dia não, pra compor. Então componho bastante, tenho um acervo bem grande. Quando me preparo pra gravar um álbum, pego esse acervo e seleciono algumas músicas que estejam de acordo com a proposta do disco. Mas também deixo sempre em aberto pra compor algo novo durante o processo de pré-produção. Algumas músicas de “Laços Indestrutíveis” eu já vinha trabalhando faz tempo, como “Lições do Tempo”, que eu não conseguia finalizar. E chegou um momento no álbum em que consegui concluir e gostei muito do resultado, por isso entrou no disco. Outras, como “O Papel”, foram criadas naquele período da pré-produção. Acho isso muito interessante: a canção vem quando tem que vir. A gente precisa sintonizar, abrir a mente e o espírito pra captar essas ideias e transformar em música.

RM: “A Força” é uma das músicas mais fortes do seu último álbum, na minha opinião. Pode me falar mais sobre ela?

DS: Opa, obrigado! Fico feliz que tenha gostado da música. “A Força” é uma balada. Usamos piano, violões, pra criar esse clima que combina com a letra. Ela fala sobre períodos difíceis que todo mundo passa. A vida às vezes fica pesada mesmo, mas a força pra superar e continuar está dentro de nós, dentro da nossa busca, do nosso sentido de vida, da nossa caminhada espiritual também. E quando a gente encontra esse lugar de paz, de recuperação, pode voltar e passar esse conhecimento pra outras pessoas. No final da música, tem uma menção à Maria, a Santa Maria. Eu sou espírita cristão, não sou católico, e essa menção surgiu porque, na época em que estávamos produzindo o álbum, eu tive um sonho. Nele, eu estava em pé dentro de uma cova, olhava ao redor, e de repente vi a imagem de Nossa Senhora. Isso me marcou muito. A parte da letra que fala “a luz na escuridão” é justamente sobre isso: se em algum momento a gente estiver na escuridão, seja por problemas, angústias, vícios, lembrar de Nossa Senhora, de Maria, que dentro da doutrina espírita é um espírito de luz muito elevado, que ajuda quem está em desespero. Ela é uma presença de apoio que a gente sempre pode invocar com uma prece. A música é uma das que mais gosto, por ser essa balada com refrão forte e por ter esse crescimento do meio pro final. Ela vira uma canção mais pesada, tem um solo bonito bem construído e depois mantém esse peso. É uma música longa, com várias partes diferentes, que vão prendendo a atenção e justificam sua duração. Vale lembrar que ela também surgiu durante a pré-produção do álbum, aquele período em que a gente estrutura tudo antes de entrar no estúdio.

RM: Em “Laços Indestrutíveis” você repete a parceria com o produtor Oliver Dezidério. Quais as vantagens e desvantagens de se trabalhar com o mesmo produtor em álbuns distintos?

DS: Sim, eu e o Oliver já temos uma parceria de vários anos, em vários álbuns. A grande vantagem de trabalhar com o mesmo produtor é que a gente já se conhece, já sabe como funciona o trabalho um do outro. Isso torna tudo mais natural e dinâmico. Ele sabe o que esperar de mim como artista, sabe como me direcionar, e eu confio na visão dele como produtor. A cada álbum que gravamos juntos, percebemos nossa evolução, tanto na parte técnica quanto nas composições e letras. Se fosse pra citar uma desvantagem, talvez seria justamente não ter um olhar novo sobre o trabalho. Um produtor novo traria um ponto de vista diferente, não necessariamente melhor ou pior, mas outro. Mas no meu caso, estou muito satisfeito com os trabalhos que fizemos juntos. Continuo trabalhando com ele porque sei que, a cada disco, a gente sobe o nível, e isso é muito motivador.

RM: Como você consegue conciliar o trabalho em sua carreira solo e nas bandas Machado de Einstein e Area Forty Seven? Como saber quando uma composição ou uma letra encaixa mais nesse ou naquele projeto?

DS: Consigo conciliar os trabalhos com organização, separando um tempo pra cada projeto. Cada um tem sua proposta. No meu trabalho solo, tenho muita liberdade. Posso abordar temas espirituais, fazer músicas com piano, violão, rock… Tenho mais abertura pra experimentar. Já a Machado de Einstein é focada no rock autoral. A gente retomou os trabalhos faz cerca de um ano e meio, depois de ter parado na pandemia. Aos poucos estamos voltando, tocando bastante tributo (Ramones, Metallica, Bush…), que têm a ver com o estilo da banda e das nossas músicas autorais. Ela tem uma pegada mais direta, sem entrar tanto em espiritualidade, mas sempre com mensagens positivas. Já a Area Forty Seven é um projeto de metal alternativo. O nome vem do nosso DDD (47). As letras são quase todas em inglês, porque o metal tem mais força no mercado internacional. A gente já participou duas vezes do Festival da Canção aqui em Balneário Camboriú com músicas em português, o que foi muito legal, inclusive porque o festival só aceita músicas em português. As músicas ficam muito boas também nesse formato. A escolha de qual composição vai pra qual projeto acontece de forma natural. A própria música meio que mostra onde ela pertence.

RM: Além de três projetos autorais, você agora integra uma banda tributo ao Bad Religion. Não é muito trabalho se dividir em quatro iniciativas diferentes? O que o motivou a participar dessa nova iniciativa?

DS: É bastante trabalho sim, ainda mais com cada banda sendo com uma galera diferente. Mas, com organização, tá dando certo. A gente consegue tocar os projetos, uns com mais frequência, outros em momentos mais específicos. O projeto Bad Religion Special, o tributo ao Bad Religion, que se chama Burns, surgiu de um convite de um amigo meu, baterista, que curte muito a banda. Eu também sempre gostei, mas só tinha umas três músicas na minha playlist. Quando ele me convidou, topei e disse que ia estudar pra me preparar. E esse mergulho na discografia do Bad Religion me ensinou muito, tanto em composição quanto em melodia e letra. Eu costumo dizer que foi como fazer uma faculdade de música. Aprendi muito, e inclusive algumas coisas desse estudo influenciaram nas composições do meu novo disco, músicas mais curtas, com foco na melodia. A banda é muito boa, e os shows também têm sido ótimos.

RM: Como anda a agenda de shows de todos os seus projetos? Como se organizar para tocar o máximo possível com todos eles sem que um ou outro sejam prejudicados?

DS: A gente não toca tanto quanto gostaria com os trabalhos autorais, por conta da dificuldade de conseguir espaço nas casas de show. Mesmo assim, temos feito shows esporádicos com todas as bandas. Na segunda semana de julho tivemos show com o tributo ao Bad Religion. No mês passado toquei com a Machado de Einstein num evento fechado, de cervejas artesanais. Foi muito legal. Também tocamos com a Area Forty Seven em um encontro de moto clube aqui da região, o Mutantes. Foi outra experiência muito bacana. Quando não estou tocando, estou compondo e trabalhando. Este ano lancei o álbum “Nosso Legado”, que foi gravado no ano passado, e consegui aprovar um projeto pela Lei de Incentivo à Cultura de Balneário Camboriú pra gravar o novo álbum, que se chama “Pés no Chão”. Em contrapartida, vou fazer um show gratuito no Teatro Municipal no dia 08/11. Tem sido uma experiência intensa e muito gratificante. Tenho certeza de que esse álbum vai alcançar mais visibilidade, até pela equipe envolvida, que é formada por profissionais muito bons, alguns que já conheço e outros novos. Estamos quase finalizando a fase de captação e logo entramos na parte de mixagem e finalização. O álbum será lançado no dia do show, o que cria ainda mais expectativa. Pra mim, é uma oportunidade enorme de expandir meu trabalho, e também um reconhecimento da cidade e da Fundação Cultural. De Balneário Camboriú.

Foto: Island Press

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