Resenha: “Antichrist Reborn” – The Troops of Doom

2020. Enquanto a epidemia do corona vírus espalhava pânico pelo mundo, veteranos da cena da música extrema de Minas Gerais viam a situação de lockdowns e proibições como uma oportunidade. Capitaneada pela lenda Jairo “Tormentor” Guedz (guitarrista original do Sepultura), e com a adição de Alex Kaffer (vocal/baixo), Marcelo Vasco (guitarra) e o monstro Alexandre Oliveira, o The Troops of Doom começou os trabalhos naquele mesmo ano com o EP “The Rise Of Heresy”, seguido por “The Absence of Light” em 2021Ambos bons aquecimentos para “Antichrist Reborn”, primeiro álbum completo da banda. E que álbum, senhoras e senhores.

“Antichrist Reborn” é uma bela coleção de influências, prioritariamente o Sepultura das antigas (obviamente), mas há muito aqui de Slayer (fase “South of Heaven”) e Celtic Frost. Tudo equilibrado de maneira harmoniosa (por falta de uma palavra que melhor descreva a coisa). Isso já se vê com o cartão de visitas “Dethroned Messiah”, uma bela porrada thrash com bastante agressividade, raiva e que dá o tom do que vem a seguir. Essa toada se repete em “Far From your God”, onde as supracitadas influências de Celtic Frost e Slayer aparecem de forma ainda mais proeminente. Essa mesma fórmula, mas com uma adição de metal extremo alemão, aparece a seguir, em “Altar of Delusion”, antes de “Grief” dar uma bela puxada no freio. Ela é um interlúdio instrumental curto, que logo dá lugar à “Pray into the Abyss” que, a exemplo de “The Rebellion”, parecem músicas compostas e escritas no final dos anos de 1980, antes de serem guardadas em uma gaveta e só saírem de lá agora. É pura música pesada oitentista, mas com uma produção digna dos tempos atuais.

O mesmo pode ser dito de “Deserters from Paradise”, onde o lado mais death metal do quarteto se faz mais presente do que em qualquer outro momento do álbum. Coincidentemente ou não, ela deságua em “Apocalypse MMXXII”, outro interlúdio instrumental que tira toda a velocidade e peso de “Antichrist Reborn”. Um alívio necessário para alguns, ela prepara a audiência para as músicas derradeiras dessa pancadaria. “A Queda”, um manifesto contra a religião organizada onde Alex divide os vocais com João Gordo (Ratos de Porão), vem na sequência. A versão digital de “Antichrist Reborn” se encerra com a longa “Preacher’s Paradox”, onde a banda continua a mostrar sua falta de apreço pelas religiões organizadas que temos por aí.

Em tempos de serviços de streaming para todos os lados, é sempre legal adicionar algo que faça o fã achar que levou uma vantagem ao adquirir o álbum físico. Assim sendo, além do trabalho gráfico legal, embalagem slipcase e pôster 36×36 dupla face, os responsáveis pelo lançamento de “Antichrist Reborn”, as gravadoras Voice MusicRock Brigade Records reservaram duas faixas exclusivas para a versão física do álbum. Covers para “Necromancer”, do Sepultura e “The Usurper”, do Celtic Frost.

Poucas vezes escutei um primeiro álbum tão potente quanto esse do The Troops of Doom. O que o quarteto fez aqui, com destaque para o baterista Alexandre Oliveira é quase um absurdo. Praticamente tudo funciona bem em “Antichrist Reborn”, que já sai na frente para integrar as famosas listas de “melhores do ano” que costumam sair em sites especializados em dezembro.

Agradecimentos: Voice Music, Rock Brigade Records e João Eduardo (Cogumelo Records)

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