Odin’s Krieger Fest traz diversidade sonora para BH

Foram sete longos anos desde que o Odin’s Krieger Fest passou por Belo Horizonte pela última vez. Um festival voltado prioritariamente para fãs do folk metal, a versão 2024 teve esse clima, haja vista o stand vendendo indumentária e roupas voltadas para esse público e diversos membros da audiência devidamente paramentados, fossem com suas fantasias de guerreiros escoceses e germânicos, fossem ostentando martelos, machados e mesmo picaretas (de plástico, obviamente). Isso sem contar aqueles usando pinturas faciais como aquelas de guerreiros bárbaros. (Entenda-se como “bárbaros” aqui aqueles povos que eram assim chamados pelos romanos e que resistiam à expansão de seu império).

Em cima do palco, no entanto, o Odin’s Krieger Fest deste ano não foi exclusivamente voltado para o público que adora músicas onde se misturam os instrumentos clássicos do heavy metal com aqueles menos comuns ao gênero – tais quais o bandolim, a flauta ou o banjo – e uma temática voltada mais para a fantasia e o folclore. Na verdade, cada banda que subiu ao palco do Mister Rock trouxe uma sonoridade diversa para o festival.

Coube aos mineiros do McMiners a tarefa de abrir os trabalhos. A banda liderada pelo carismático vocalista/baixista Gabriel O’Finnegan levou ao palco uma sonoridade que mistura música celta com a fúria do punk e do rock and roll tradicional, sendo a única da noite a usar os supracitados bandolim, banjo e flauta em suas composições.

Mesmo tocando para uma casa ainda quase vazia, os mineiros fizeram um show bem divertido, que agitou o pequeno público, que, em muitos momentos, respondeu a contento. O único problema do show do McMiners foi o fato do som da guitarra estar muito alto, sobrepondo-se a todos os demais, inclusive os vocais. Isso prejudicou um pouco o show como um todo. Nada, no entanto, que ocasione qualquer demérito aos membros da banda, que, como dito acima, fizeram um bom trabalho.

O problema da guitarra mais alta do que o resto prosseguiu durante o show da segunda banda da noite. O Hugin Munin (nome inspirado nos dois corvos de Odin, deus supremo da mitologia nórdica) é uma banda de Santos adepta do death metal com temática nórdica, o que, obviamente, os encaixa no chamado viking metal. O quinteto liderado pelo vocalista Surt também deu seu recado de forma competente, mostrando um death metal bastante técnico e competente. Uma pena que o problema da guitarra tenha impedido o público de ter uma audição melhor do som dos caras. Isso, no entanto, não parece ter incomodado a galera presente, que respondeu bem ao show da banda.

Após o death metal do Hugin Munin era a vez da primeira atração internacional da noite. O Dogma é uma banda formada por quatro mulheres – ainda que sejam cinco em cima do palco – que escondem suas identidades por trás de apelidos e se apresentam ao vivo vestidas como freiras “sexy” e corpse paint. Particularmente, vejo nelas uma similaridade com o Ghost, inclusive no sentido de que todo o visual não corresponde à sonoridade. Ambas as bandas adotam o visual típico do black metal, mas fazem um hard rock bem palatável. E isso é legal, porque elas sabem o que fazem e apresentaram boa parte de seu único álbum, autointitulado, no palco. Destaque para músicas como “Free yourself”, “Forbiden Zone”, “Make us Proud” e “Father I have Sinned”. Fazendo jus à imagem de misteriosas e “malvadonas”, apesar de agitarem muito em cima do palco e chamarem o público para participar do show, nem a vocalista Lilith nem qualquer uma de suas companheiras se preocupou em interagir diretamente com os presentes, encerrando uma apresentação de cerca de 50 minutos sem um bis ou a clássica despedida onde a banda tira uma foto com o público ao fundo.

Não demorou muito para a banda principal, a também italiana Wind Rose subir ao palco. Diferentemente do Dogma, o Wind Rose conta com um vocalista muito carismático, Francesco Cavalieri, que fez questão de interagir com o público o tempo todo, inclusive recebendo deles alguns dos adereços que citei anteriormente e utilizá-los no palco. A quarta e última banda da noite é adepta de um power metal cuja temática das letras é muito centrada nos feitos de anões guerreiros e ferreiros como aqueles presentes nas histórias de J. R. R. Tolkien.

Francesco fez questão de conversar com o público em sua primeira passagem pelo Brasil, lembrando a todos que o país é o segundo que mais escuta suas músicas nos serviços de streaming e elogiando a empolgação natural dos headbangers brasileiros. O resto da banda seguiu mais ou menos na mesma onda, incluindo o tecladista Federico Meranda, que não se furtou em sair de trás de seu instrumento para pular, dançar e bater cabeça sempre que possível.

A alegação de Francesco de que o Wind Rose tem muitos ouvintes no Brasil foi demonstrada pelo público, que cantou boa parte das músicas da banda junto com o vocalista. Ele, inclusive, por várias vezes deixou que o público realizasse esse trabalho sozinho. Dentre os destaques da apresentação dos italianos estão “Mine! Mine! Mine!”, “The King Under the Mountain”, “Rock and Stone” (essa muito pedida pelo público), “Diggy Diggy Hole” e “I am the Mountain”, que fechou a apresentação e se relaciona à batalha do vocalista contra a depressão.

Apesar do problema da guitarra nos dois primeiros shows e de um atraso de quase meia hora para o início da primeira apresentação – que foi compensado posteriormente, de forma que o Wind Rose acabou subindo ao palco antes do esperado – o saldo do Odins’ Krieger Fest foi bem positivo. O público que compareceu e encheu o Mister Rock (ainda que não o tenha lotado) foi bem receptivo e todos parecem ter saído de lá satisfeitos. Esperamos que isso signifique que não precisaremos esperar mais sete anos para a próxima versão do OKF vir à capital mineira.

O Rock Master agradece aos produtores do festival e à Lucélio Henrique (Mister Rock) pela oportunidade da cobertura de mais esse evento.
Fotos: Rodrigo Monteiro

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