O guitarrista Kiko Loureiro está em turnê de divulgação de seu mais novo álbum, “Theory of Mind”. De passagem por Belo Horizonte para um show no dia 04 de junho, o músico tirou um tempinho de sua agenda corrida para conversar com o Rock Master. Confira a integra abaixo.
Rock Master: Quais os principais aspectos que diferenciam “Theory of Mind” de seu predecessor, “Open Source”?
Kiko Loureiro: Na realidade, sinto os dois (álbuns) como uma certa continuação, porque é a mesma banda, o mesmo produtor, Adair (Daufembach), uma forma meio parecida de fazer as músicas… Mas entraram outros assuntos na minha vida, né? Tipo, eu compus as músicas do “Open Source” quando eu tava nos Estados Unidos, no Megadeth, e já no “Theory of Mind” eu peguei uma fase final. Estava no Megadeth ainda, mas já tava mais na Finlândia. Então, acho que a minha vida em si tava bem diferente, e terminei as gravações do “Theory of Mind” já não estando mais no Megadeth. Foi meio um álbum que pega essa transição. Então acho que, pra mim, que tô bem dentro das composições, da forma como foram criadas as músicas, as melodias, sinto a diferença nesse quesito, de como tudo aconteceu, o estilo de composição, a forma como a minha vida tinha mudado.
No caso do “Open Source”, teve o lance de ter sido lançado bem na época da pandemia. Então, lancei em junho de 2020 o primeiro single, assim, no meio da pandemia, então também teve essa diferença. Mas, em termos de banda e sonoridade, eles são bem próximos. As partes mais técnicas, que tô usando mais coisas digitais… Eu ainda tava usando amplificador no “Open Source”. Tem também a temática um pouco mais ligada ao que eu tava passando em termos psicológicos, com família, com filho… Essa é uma olhada pra dentro da minha própria psique.
O termo vem daí, do “Theory of mind”, desses estudos, dessas leituras, e também da questão da inteligência artificial já fazendo parte da nossa vida. Não que eu tenha usado inteligência artificial no álbum, mas ela estava bem presente na nossa vida — e esses questionamentos… E vi esse termo “Theory of Mind” sendo usado em inteligência artificial. Então, achei interessante esse termo, que virou o título do álbum.
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E, pra completar, lembro de ver uma entrevista do Pat Metheny, um guitarrista de jazz, e ele falou que um compositor compõe uma música a vida inteira. Não sei se eu concordo com isso, mas me faz refletir, porque faz sentido: você é a mesma pessoa. Então, a música que você faz é sempre aquilo que você acha bonito no mundo, a forma como você enxerga e como você reproduz isso com as próprias palavras, as palavras musicais. Então, tem um fundo de verdade nisso. Mas, ao mesmo tempo, a gente muda como pessoa. Não acho que eu seja o mesmo Kiko do “Angel’s Cry“, lá de 1993 e tal. Mas tem uma parte interna que é a mesma, o gosto musical que é o mesmo, as escolhas de notas e acordes, e partes das músicas são muito parecidas com o que eram quando eu era mais novo. Então, eu semi concordo com isso.
Completando essa resposta, o que tem de diferente num álbum, às vezes, é que um jeito que muito artista encontra pra fazer algo diferente é justamente trocar de banda ou até de estética. Então, faz um acústico, faz um com orquestra, faz com um trio, faz com uma banda maior, vai mudando a estética. Mas, no entorno disso, é muito difícil a gente mudar quem a gente é.
Rock Master: Como foi o processo de primeiro convidar Marty Friedman para participar de “Theory of Mind” e depois trazê-lo para o Brasil para fazer parte da turnê? Foi necessário muito trabalho para convencê-lo a atravessar o mundo para voltar a tocar por aqui?
Kiko Loureiro: A conversa com o Marty Friedman foi uma coisa natural. E foi bem legal, porque já conheço o trabalho dele há muitos anos, antes até do Megadeth. Quando eu era moleque, tinha os álbuns de guitarristas, e ele estava dentro dessa turma de guitarristas vindo da Califórnia, dessa nova onda de guitarristas com a qual eu fiquei muito conectado, vidrado, quando era bem adolescente. Então ele já estava lá.
Ele entra no Megadeth e eu continuo acompanhando o trabalho dele. Vi o show dele no Rock in Rio, do Megadeth, e até os trabalhos solo, sempre acompanhando, vendo ele aqui e ali. Eu seguia os guitarristas, e ele sempre foi um cara de quem gostei muito do estilo.
Convidei ele pra participar do meu álbum e foi muito legal. Ele respondeu na hora e já mandou um solo super rápido. Então foi bacana demais. E aí, quando rolou essa ideia de voltar, eu queria convidar algum guitarrista. No ano passado eu vim em BH, mas só em São Paulo e Curitiba teve o Bumblefoot que tocou no Guns N’ Roses, ele veio como convidado. Daí esse ano eu pensei “pô, quem poderia ser o convidado”. E um dos nomes que passaram pela minha cabeça foi o Marty Friedman.
O cara mora no Japão… é mais difícil. Mas perguntei pra ele. Coincidentemente, ele estava vindo pra América do Sul, sem passar pelo Brasil. Então a gente mudou um pouco as datas do que estava planejado, pra conseguir encaixar na agenda dele e conseguimos alinhar tudo. Então, é um show muito especial, porque é muito difícil que aconteça um show desse de novo.
Eu imagino, porque pra alinhar essa superbanda que eu tenho, que é o Felipe Andreoli, o Bruno Valverde, o Alírio Netto cantando, que mora na Espanha, canta lá no cover oficial do Queen, o Luiz Rodrigues na guitarra, toda equipe, eu, e ainda o Marty Friedman… Pra conseguir colocar todo mundo pra viajar dentro do Brasil, foi bem difícil colocar tudo junto. Então é um show imperdível pra qualquer fã de guitarra, fã de metal, fã de rock, um show de altíssimo nível.
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Rock Master: Mudando um pouquinho de assunto, “Universo Inverso”, seu segundo álbum, mostrou um lado mais “leve”, por falta de um termo melhor, seu. Algum plano de produzir um álbum similar àquele no futuro?
Kiko Loureiro: O lance do “Universo Inverso” foi uma fase em que eu estava bem conectado, morando no Brasil, bem próximo da música brasileira. Realmente fiquei com vontade de fazer aquele álbum naquela época. E, assim, sempre me passa pela cabeça como seria fazer um desse tipo agora. Mas outras ideias também vão surgindo e isso acaba ficando pra depois.
Fui convidado pra participar de um Brazilian Day lá na Suécia, agora em agosto. E aí… quem sabe não retomo um pouco essas composições. Vou tocar uma delas, então talvez essa vontade de fazer um álbum mais fusion, com música brasileira e guitarra, volte com força. Pode ser, tá sempre nos planos.
Muita gente pergunta se vou fazer o “Universo Inverso Dois”, alguma coisa assim. Tá sempre nos planos, mas tem outras coisas nos planos também, que acabam entrando na frente. Mas, com certeza vai acontecer.
Rock Master: Entre sua saída do Megadeth e o anúncio da pausa nas atividades do Angra, houve um boato de que você voltaria à banda que, assim como Iron Maiden e Helloween, passaria a ter três guitarristas. Há algum fundamento nisso? Independente de qualquer coisa, como é lidar com esses boatos no momento em que sua carreira solo parece cada vez mais bem cimentada?
Kiko Loureiro: Bom, a internet está aí pra isso, né? Pra criar especulações, pra criar fake news, pra os fãs especularem e sonharem com alguma reunião ou coisa assim. Isso é constante na maioria das bandas. Então… Por que teria tudo a ver, né? O Kiko não tá mais no Megadeth, ele ainda é amigo de todos os caras do Angra, tá sempre com os caras do Angra… Por que não?
O Iron Maiden tá com três guitarristas, o Helloween juntou… Então, assim historicamente falando, materialisticamente falando, outras bandas fizeram. Então por que o Kiko não faria? Então essa especulação é plausível.
Mas, assim, eu não tenho nada. Não tenho vontade, nunca falei que vou fazer. Tenho outros planos. Tô fazendo carreira solo, com meu álbum. Vou convidar o Marty Friedman agora. Tem outras ideias também, como na resposta do “Universo Inverso”, essa vontade de fazer outros álbuns. Já tô gravando novas músicas. Essa é a minha vontade agora.
Tenho uma academia de guitarra, então trabalho de lá da Finlândia com essa parte online também. E isso me permite ficar em casa, com filho pequeno, o que é muito legal, e controlar um pouco mais a minha vida em termos de tour. Quando eu quero fazer tour, quando aceito um show ou não… Esse domínio da minha agenda é um luxo que nunca tive na minha vida. Então agora quero aproveitar esse luxo de agenda. Porque tocar numa banda… Você entra na agenda da banda, na vontade de um grupo, de uma democracia. Então, agora, é inviável qualquer questionamento dessa forma, de retornar ao Angra, de três guitarras, cinco guitarras, duas guitarras, o que seja. Apesar de eu ser muito amigo de todos.
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Rock Master: Felipe Andreoli e Bruno Valverde esiveram com você na turnê anterior e também agora. Com a confirmação de que o Angra vai parar por tempo indeterminado após a turnê atual, existe alguma conversa para que vocês montem algum projeto, também com Alírio Netto nos vocais?
Kiko Loureiro: É, realmente tem o Felipe, o Bruno… O Felipe sempre foi um baixista super requisitado, porque ele toca tudo, tira tudo. Ele é excelente em qualquer estilo. É um cara em quem você pode contar, muito bom de conviver, tem todos os predicados fundamentais de um grande artista, de um grande músico.
O Bruno eu conheci antes de ele entrar no Angra. Fui eu quem indicou ele pro Angra, porque ele já tava fazendo meu trabalho solo. E aí ficou essa coisa de, tipo, “agora o Bruno é o cara do Angra, e também toca com o Kiko”.
O Alírio eu me aproximei mais recentemente. Queria um vocalista que pudesse cantar algumas coisas do Angra, mas que não fosse o cantor do Angra. Aí convidei o Alírio, porque já tinha uma amizade com ele. E acabou virando esse “Angraverso”, de certa forma, porque ele cantou no Shaman.
Mas nessas horas isso nem passa isso pela minha cabeça, porque eu penso em todos esses artistas, esses músicos, meio que individualmente. Conheço o Felipe há 25 anos, o Bruno, já mais ou menos uns 10 anos, o Alírio, também lá de trás. Não tão próximo, mas sempre ouvi falar dele, sempre encontramos aqui e ali.
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Então eu penso neles individualmente. Mas não tenho nenhuma ideia de formar uma banda com eles. Não é isso. Porque, de novo, é um trabalho que eu faço solo, mas eu posso, de repente, como falei naquela resposta do “Universo Inverso”, ter outros músicos, outro trabalho com outras pessoas. A ideia de estar solo é justamente ter essa liberdade de escolher a banda com quem você toca.
Eu gosto muito de tocar com eles. E o nível das músicas… Não dá pra chamar qualquer músico. Nem todo mundo consegue tocar. Essa é a realidade. Por mais que pareça um pouco prepotente falar isso, mas as músicas são difíceis de tocar. E não dá pra chamar qualquer músico.
Então acaba que o Bruno e o Felipe… Eles sabem tocar muito bem minhas músicas. Mesmo porque eles gravaram essas músicas. E as músicas que eles não gravaram, já tocam comigo há um bom tempo. Sabem tocar muito bem e deixam as músicas da forma ideal.
E não é fácil. Tipo, a gente tá trabalhando… O Bruno, o Alírio, o Felipe são músicos, assim, é aquela nata, é aquele 1%. Então é difícil realmente você encontrar. Então é por isso que acaba sendo essa a banda que me acompanha.
A “Theory of Mind” tour passa por Belo Horizonte em 4 de junho, no Mister Rock. Ingressos ainda estão à venda no Meaple.
Depois de Belo Horizonte, a turnê de “Theory of Mind”, que tem produção da Top Link, passa por Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.
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