O Angra se encontra em meio a uma turnê com duplo propósito: homenagear as duas décadas do lançamento de “Temple of Shadows” e visitar o máximo de cidades e países possível antes de seu anunciado hiato por tempo indeterminado. Belo Horizonte, uma das cidades mais receptivas à banda, não poderia ficar de fora dessa.
Aproveitando o fato de que o quinteto se apresenta na capital mineira no dia 11 de julho no Mister Rock, o Rock Master bateu um papo com Rafael Bittencourt sobre o atual momento e o futuro do Angra. O guitarrista, membro fundador e o único integrante em todas as fases, fez uma promessa: ‘Nós voltaremos.”
Rock Master: O Angra é uma banda conhecida por emendar uma turnê atrás da outra, seja divulgando novos álbuns, sejam shows especiais, sempre com casas cheias. O que levou à decisão de dar uma pausa nas atividades justamente em um momento onde a popularidade da banda continua em alta com o público?
Rafael Bittencourt: A gente emenda uma turnê atrás da outra há muitos anos. Mesmo na pandemia, quando demos uma parada, foi uma parada também bastante conturbada, porque procuramos organizar a questão de catálogos, relação com ex-membros…. Essa relação estava também conturbada, gerou muito estresse, então assim nunca paramos de fato. Retomamos logo após a pandemia, fizemos álbum… Fizemos dois álbuns, fizemos o “Cycles of Pain“, depois fizemos um álbum acústico, agora estamos celebrando o “Temple of Shadows“, então a gente está precisando de um tempo para resetar a bateria, porque o normal seria emendarmos num álbum novo, com músicas novas.
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E para isso precisa de inspiração, precisa de calma, precisa se recolher, precisa entrar em contato com os sentimentos, visões de mundo e tudo mais. A música você faz sempre em resposta a um fluxo que você vive. A criatividade é a resposta da sua observação e das suas emoções, então você precisa viver coisas que não é só hotel, passagem de som e show para você ter novos assuntos. Isso somado também aos projetos pessoais de todos. Todos também têm alguns outros projetos que acabaram tomando forma, inclusive durante a pandemia.
Então nós todos estamos também procurando dar um foco nisso. Eu tenho o meu canal, que é o canal Amplifica, e eu vou procurar me dedicar a ele, meu projeto solo que é o Bittencourt Project e o meu projeto em homenagem ao Raul Seixas. Então são três coisas que estão precisando da minha dedicação agora. E eu acho que o momento de alta é um bom momento para parar porque não parece que você está parando por conta da falta de prestígio, por conta da falta de público. Nós estamos parando num certo momento de alta e a gente acredita que quando voltarmos vai haver demanda, vai haver um hype também do retorno.
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RM: O Angra está caminhando para os 40 anos em um subgênero do heavy metal que muitos dizem estar “datado”, “saturado” e “repetitivo”. No entanto, vocês sempre se transformam e inovam, mantendo sua essência a cada álbum. O quão difícil é trazer essa diversidade ao seu som, sendo que nem sempre o público de metal, em geral, é aberto às mudanças?
RB: Olha, realmente, o estilo, se você for pensar o power metal, o próprio heavy metal melódico, ele anda bem saturado, com duas ressalvas. A primeira é que ele é muito forte ainda dentro dos seriados de anime e também do ambiente, do universo de videogames. Mas como estilo mesmo, de banda de rock, ele é um pouco datado. A ideia do Angra, a proposta, nunca foi se manter exclusivamente dentro desse estilo. A nossa proposta sempre foi misturar elementos de outras tendências. Por isso também a pausa.
A gente sempre fez uma pesquisa de som, de música, de novos artistas, de antigos artistas que cada um não conhecia, muita troca entre nós, do que cada um está escutando, então é sempre uma efervescência de inspirações musicais e de temas. Então eu acho que apesar de termos sempre uma conexão forte com o heavy metal mais tradicional e o power metal, estamos sempre procurando combinar elementos que são mais atuais ou já clássicos, por assim dizer, porém, de uma forma diferente. E isso demanda de bastante laboratório, bastante experimentação.
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RM: Você já falou que é o integrante mais dependente financeiramente do Angra, enquanto outros membros têm projetos paralelos. Com essa pausa, quais os seus planos além do Amplifica e no Bittencourt Project? Você mencionou em uma entrevista recente um projeto de músicas infantis. Poderia falar mais a respeito?
RB: Bom, primeiramente, além desses dois que mencionei, tem o Raul Seixas que falei, estou começando um projeto infantil, de áudio-visual e música infantil e novos conteúdos, novos quadros dentro do Amplifica. Então isso demanda de muito tempo. Sobre o projeto de música infantil, ele é algo que engloba conteúdos voltados para a família. Vejo que há uma carência do público que gosta de rock , do público que gosta de música de excelência, uma carência de mostrar para seus filhos conteúdos infantis que eduquem musicalmente, que tragam alguma preocupação educacional.
A ideia é criar conteúdos em família, que um pai que gosta de rock ou música em geral coloque o filho no colo e assista se divertindo e, ao mesmo tempo, divertindo seu filho. Essa é a ideia. É possível até que esse conteúdo infantil faça parte da grade de novos conteúdos do Amplifica.
RM: Você e Kiko Loureiro são amigos de longa data. Com essa pausa nas atividades do Angra, haveria algum plano de desenvolverem algum projeto paralelo juntos? Adicionalmente, como você lida com os constantes boatos de que ele retornaria ao Angra que, então, passaria a ter três guitarras, a exemplo de Helloween e Iron Maiden?
RB: É bem possível (que façamos alguma coisa juntos). A gente já vem com essa vontade de criar alguma coisa juntos, seja gravado ou para algum evento ou show. Sobre os boatos, é normal. Damos risada, dou “like”, às vezes coloco lenha na fogueira… Muita gente fala que o Angra vai acabar. Todo ano tem um momento em que os fãs falam que o Angra vai acabar. Daí faço um post a respeito porque acredito que os fãs do Angra gostam muito de sofrer.
Estão sempre sofrendo por antecedência por um drama que eles mesmos criam. Mas no caso do Kiko, é muito difícil ele voltar para banda. Acho possível que ele participe de shows, né? Acho possível e desejo muito que ele participe de shows conosco. Mas dificilmente ele voltaria para a banda. Um show de celebração com ele, aliás, com três guitarras. Nunca descartando o Marcelo Barbosa, que já é membro efetivo da banda, seria, acho que, muito legal para todo mundo.
RM: Também em uma entrevista recente você disse que o show de encerramento dessa turnê seria o último do Angra “nos moldes atuais”. Poderia dar mais detalhes a esse respeito? Os fãs do Angra podem esperar alguma mudança de formação ou você se referia apenas a diminuir o ritmo de turnês?
RB: Essa pausa, como é uma coisa indefinida, não existe uma obrigação de nenhum dos membros de ficar esperando pelo Angra para retornar. Mas não existe nada que implique na saída de ninguém. Nossa ideia é parar e voltar com a mesma formação. Nos moldes atuais, seria, não na formação, mas na maneira que a gente vem trabalhando, fazendo muitos shows, muitas turnês, emendando uma na outra. Acho que, estruturalmente e estrategicamente, essas seriam as mudanças que podem vir a acontecer, daqui para frente.
Gostaria de aproveitar e agradecer aí o pessoal do Rock Master e toda a galera de BH que sempre recebeu a gente muito bem e é com muito carinho que a gente volta agora com uma certa nostalgia, porque não sei quando, depois desse último show, que estaremos de volta. Algumas pessoas não acreditam quando algumas bandas dizem que vão parar e é verdade, porque algumas dizem que vão parar e não param nunca. Por isso que estou chamando de pausa. É uma pausa indefinida e assim, nós voltaremos, mas não sei quando. Então tem sim um aperto no coração de estar diante de uma galera que sempre apoiou o Angra aí em BH e eu não sei quando que eu vou revê-los novamente. Muito obrigado a todos.
A última passagem do Angra em BH antes do hiato terá abertura do Viper. Ingressos para o show, uma produção Top Link, que acontece em 11 de julho, estão disponíveis no Sympla.
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