Resenha: Progress of Decadence – Overdose

No início dos anos 1990, bandas brasileiras de heavy metal estavam começando a explorar algo que se tornaria tendência: a adição de elementos da música tradicional tupiniquim em suas produções. A percussão tribal e típica do samba, por exemplo, passou a dividir espaço com guitarras velozes e vocais raivosos.

Por mais estranho que isso possa parecer, a mistura, quando feita por gente competente, deu bastante certo e o álbum “Roots” (1996) do Sepultura é considerado, por muitos, o ápice deste novo estilo de metal extremo. No entanto, ele não é o percursor dessa tendência. Na verdade, nem vou me arriscar a dizer quem começou com esse movimento por falta de dados que possam corroborar essa afirmativa. Mas uma coisa posso dizer com certeza: os também mineiros do Overdose se anteciparam ao Sepultura e apresentaram algumas das mesmas características encontradas em “Roots” em “Progress of Decadence”, seu quinto registo de estúdio, lançado em 1994 pela Cogumelo Records e relançado em formato especial neste ano.

Na época tendo Bozó nos vocais e percussão, Cláudio David e Sérgio Cichovicz nas guitarras, Eddie Weber no baixo e André Márcio na bateria e percussão, em “Progress of Decadence” o Overdose mantém a tradição de se mostrar uma banda adepta à variação e à experimentação, fazendo um som que, apesar de manter algumas das características indeléveis ao metal extremo, guarda poucas ligações com o trabalho apresentado pela banda em trabalhos anteriores como “Addicted to Reality” (1990) ou “Circus of Death” (1992).

Apesar da forte presença da percussão e uma inclinação maior para o groove metal, o Overdose não se afastou totalmente da dita música pesada em “Progress of Decadence”. A atitude de caras raivosos ainda está lá, refletida nos vocais de Bozó que, muitas vezes, lembram o que Phil Anselmo (Pantera) fazia mais ou menos na mesma época. Da mesma forma, os riffs e solos de guitarra, ora trabalhados, muitas vezes nem tanto, estão presentes e tem um papel fundamental em cada uma das faixas do álbum. A cozinha é bastante sólida e, como dito no começo deste parágrafo, o que mais se destaca em “Progress of Decadence” é o trabalho de André e Bozó na bateria e percussão. Arrisco a dizer, inclusive, que este é o álbum do Overdose onde as baquetas foram mais bem trabalhadas.

Também a exemplo dos trabalhos anteriores, “Progress of Decadence” é  um esforço bastante homogêneo do Overdose. Claramente, não há músicas encaixadas aqui apenas para preencher espaço, como acontece muitas vezes. Todas as faixas tem uma qualidade bastante similar, o que torna desafiador eleger destaques individuais. “Deep in your Mind”, “Rio, Samba e Porrada no Morro”, “Straight to the Point”, “Progress of Decadence” e “Zombie Factory” são alguns dos pontos altos do álbum.

“Progress of Decadence” também abriu diversas portas para o Overdose. O álbum foi lançado internacionalmente e proporcionou que a banda excursionasse pela América do Norte e Europa. Dois shows dessa turnê estão inclusos neste relançamento, sendo eles aqueles realizados na casa Limelight (Nova Iorque) e no festival holandês Dynamo Open Air, ambos de 1995, em formato de DVD.

Relançado em em formato digipack, contendo CD e DVD, “Progress of Decadence” é mais um tiro certeiro da Cogumelo no resgate do trabalho dos grandes nomes do metal mineiro.

Ouça a edição mais recente do Programa Rock Master:

Se preferir, clique no banner abaixo e escolha qual edição do Programa Rock Master quer ouvir: