Resenha: Shaman – Rescue

O Shaman é uma das bandas com a história mais tumultuada do metal brasileiro. Formada em meados do ano 2000 por André Matos (vocal/teclados), Luis Mariutti (baixo) e Ricardo Confessori (bateria) – trio egresso do Angra – com a adição do guitarrista Hugo Mariutti, o quarteto passou por tudo que se possa imaginar desde então: sucesso quando do lançamento do álbum de estreia, “Ritual”, troca de nome (Shaaman) antes do segundo trabalho em estúdio (“Reason”), que marcou uma mudança na sonoridade da banda, desbande, reformulação com apenas Confessori restando, nova reunião com os membros originais (e o tecladista Fábio Ribeiro) e a tragédia que quase decretou seu fim absoluto na forma do falecimento inesperado e súbito de André Mattos.

Na época em que André partiu, o Shaman havia se reunido e tinha grandes planos para o futuro. Uma forma de honrar seu legado e manter a banda ativa – como, acreditamos, era seu desejo – foi arranjar um substituto, na forma de Alírio Netto (Queen Extravaganza, ex-Age of Artemis).

Apesar de todos os percalços enfrentados, uma coisa que sempre permaneceu constante nos membros do Shaman foi seu comprometimento com o heavy metal e seu talento, tanto individual quanto coletivamente. E isso pode ser conferido em primeira mão em “Rescue”, um título bastante apropriado, novo trabalho do (agora) quinteto brazuca, estreia oficial de Alírio nos vocais – descontando aí o single “Brand New Me” lançado em 2020.


“Rescue” é aquele tipo de álbum que segue a fórmula consagrada por bandas que optam por uma sonoridade onde se mescla o power metal com o rock progressivo e pitadas daquele regionalismo consagrado por nomes como Angra e Sepultura em uma mistura que soa muito bem. Ele é aberto com “Tribute”, a indefectível intro lenta, antes de partir para o que realmente interessa. “Time is Running Out” tem todos os ingredientes mencionados acima, evidenciando o talento individual de cada membro da banda. Bons trabalhos de voz, guitarra, baixo, bateria e teclados, coroado por um puta refrão, daquele tipo a ser cantado em estádios.

“The ‘I’ Inside” vem a seguir. Apresenta elementos que carregam uma certa brasilidade, tem passagens lentas, melodiosas, alternando com algumas mais rápidas, acertando em cheio na veia progressiva da banda. “Don’t Let It Rain” vem a seguir e é a primeira, mas não única, power ballad de “Rescue”. Power metal puro, com um belo refrão, mesma base utilizada para “Where Are You Now?”.

A velocidade do power metal, com uma sonoridade mais direta e rápida e o refrão grudento e poderoso se fazem presentes em “The Spirit”, que deságua em “Gone Too Soon”, a principal balada do álbum. Mesmo sendo uma balada, é uma faixa bem empolgante.

Empolgação essa que se mantém em “The Boundaries of Heaven”, que traz outro belo refrão e talvez as melhores seções instrumentais de todo o álbum. Ela abre caminho para mais uma pisada no freio – mas não muito – em “Brand New Me”, faixa já conhecida há dois anos.

A reta final do álbum vem com “What if?”, um power metal mais clássico, novamente com um grande refrão. Daí em diante, as coisas se acalmam bastante com “The Final Rescue”, uma música instrumental que praticamente serve de intro para “Resilience” mais uma balada, que fecha os trabalhos e tem um título propício. Foi preciso bastante resiliência dos músicos envolvidos, principalmente o trio Luis, Ricardo e Hugo para passarem por tantas turbulências e mesmo assim continuarem trabalhando juntos, fazendo música boa, relevante e que, certamente, coloca “Rescue” já nas listas de “melhores do ano” que costumam sair em sites especializados a partir de dezembro.

Um álbum tão bom merecia uma atenção caprichada aos detalhes e ele teve. Além de uma produção limpinha, onde todos os instrumentos tem seu destaque e são audíveis, o trabalho gráfico ficou muito bem feito. O álbum vem em embalagem digipack, encarte com letras de todas as músicas, fotos de todos os integrantes do Shaman e pôster 36×36 dupla face: de um lado a arte da capa e, do outro, uma foto da nova formação.

Onde quer que esteja, André Mattos certamente está orgulhoso de como seus companheiros mantém viva a chama da banda que ajudou a fundar.

Agradecimentos: Voice Music e João Eduardo (Cogumelo Records)

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