Sons of Apollo se despede da América do Sul em grande estilo

Mais uma dobradinha no Rock Master do Rodrigo ‘Piolho’ Monteiro com o fotógrafo Alexandre Guzanshe!

O Sons of Apollo, grupo formado por Jeff Scott Soto (vocal), Ron “Bumblefoot” Thal (guitarra), Billy Sheehan (baixo), Derek Sherinian (teclados) e Mike Portnoy (bateria) desembarcou no Brasil na semana passada para uma mini-turnê de apenas três apresentações. Depois de tocar em Porto Alegre no dia 12 e em São Paulo (dia 14) a banda fez seu derradeiro show no domingo, dia 15, em Belo Horizonte.

O evento teve o pontapé inicial às 20h, com show de abertura a cargo da banda Dolores Dolores. Formada por Wille Muriel (vocal), Humberto Maldonado (guitarra), Rodrigo Cordeiro (baixo) e Alessandro Bagni (bateria) o quarteto teve a tarefa de esquentar o pequeno público até então presente para o evento principal. Apesar de tocar um hard rock bem legal, o fato é que o show do Dolores Dolores foi um tanto quanto frio. À exceção de Wille, os demais membros da banda mostraram muito pouca presença de palco, talvez pelo pouco espaço disponível para se movimentarem – já que o equipamento do Sons of Apollo ocupava boa parte do palco do Music Hall – ou por algum outro motivo qualquer.

De qualquer forma, minha primeira experiência vendo o Dolores Dolores em cima do palco deixou uma boa impressão no que diz respeito a suas músicas, mas não à sua performance ao vivo. Talvez com mais espaço para se movimentar e mais do que apenas 30 minutos para apresentar suas músicas, a banda se comporte de maneira diferente. Mas isso só vendo-os no futuro pra poder comprovar.

Passado pouco mais de meia hora desde que o Dolores Dolores deixou o palco e com um público melhor – mas muito abaixo do esperado ou merecido para uma banda como o Sons of Apollo – “Intruder”, música do Van Halen, começou a tocar nos PA’s, anunciando que o evento principal da noite estava começando. Aos poucos, os membros da banda foram entrando para já meter o pé no acelerador com “God of the Sun”, faixa que abre seu primeiro – e único – álbum até o momento, “Psychotic Symphony”.

Com apenas um álbum lançado, o Sons of Apollo preencheu o tempo de duração do show com covers e solos individuais. Enquanto uns funcionaram bem, outros nem tanto. Mas falaremos sobre isso em instantes.

Seguindo “God of the Sun” foi a vez da banda emendar “Signs of the Time”. Ao final dela, Jeff tirou alguns minutos para conversar com o público, antes de seguir com a apresentação. Se tem uma coisa que pode ser constatada toda vez que vejo Jeff Scott Soto no palco é que ou ele é um dos caras mais injustiçados ou azarados do rock. Sério, o cara tem uma voz extremamente versátil e um carisma como poucos no mundo da música atual. Mesmo assim, não consegue chegar ao patamar dos grandes nomes do gênero, indo de banda em banda e de projeto em projeto para poder se manter na ativa. Para se ter uma ideia, Jeff consegue estar envolvido em mais bandas e projetos paralelos do que Mike Portnoy. E olha que o ex-baterista do Dream Theater é um dos recordistas nessa categoria!

Divagações à parte, o show do Sons of Apollo continuou alternando bons momentos, com a banda tocando seu álbum de estreia na íntegra, do qual podemos destacar “Divine Addiction”, “Alive” e “Opus Maximus”. Como dito acima, houve espaço para todos os membros – à exceção de Potnoy e Bumblefoot – terem sua chance de brilharem sozinhos no palco. Billy Sheehan e Derek Sherinian fizeram solos que, apesar de tecnicamente muito bons, esfriaram um pouco os ânimos no Music Hall. Sempre penso que esses solos são legais e tudo mais, mas, não seria mais produtivo usar esse tempo para adicionar mais uma música à apresentação?

Bumbleffot e Jeff também tiveram seus momentos de destaque, ainda que não exatamente fazendo solos. Enquanto Bumblefoot liderou a banda na execução de uma versão extremamente rock n’ roll do tema da Pantera Cor-de-Rosa, Jeff teve seu momento sozinho no palco comandando a galera nos primeiros momentos de “The Prophet’s Song/Save Me”, cover do Queen para as quais teve o guitarrista ao seu lado. Esse momento, inclusive, trouxe um dos bons momentos do show e mais uma prova do carisma de Jeff Scott Soto. Pouco antes, o vocalista dissera que, se lhe dessem uma caipiroska, faria umas “coisas muito loucas” no palco. Pedido atendido durante seu momento solo, comandou o coro do “vira-vira-virou” enquanto sorvia a bebida quase de um gole só.

“Lines in the Sand”, música do Dream Theater presente no álbum “Falling into Infinity”, único gravado por Derek com a banda, encerrou a primeira parte do show. Não demorou muito e a banda retornou para “Coming Home”, primeiro single de “Psychotic Symphony” a ser lançado e que encerrou as quase duas horas de apresentação do Sons of Apollo – e a última – em nosso continente.

Se o Dolores Dolores mostrou pouca presença de palco, o contrário pode ser dito do Sons of Apollo. Não só Jeff, mas Billy e, principalmente, Bumbleffot mostraram bastante energia e carisma, fosse correndo para todos os lados, fosse fazendo piadas, algumas bem físicas, como quando Bumblefoot pega o copo de caipirinha (o segundo recebido por Jeff) e olha para os lados para conferir se alguém o observava, para então dar um gole. Mike e Derek, apesar da imposição de seus instrumentos – ao contrário de tecladistas como Jordan Rudess (Dream Theater), Coen Janssen (Epica) e Vadim Pruzhanov (Dragonforce), dentre outros, Derek não opta por usar uma versão mais portátil do seu instrumento em nenhum momento, o que lhe daria mais mobilidade – também transmitiram bastante energia.

Tecnicamente, não há o que se dizer, já que todos os membros do Sons of Apollo são músicos talentosos e virtuosos que sabem exatamente quando exibirem essa virtuose e quando fazer um som mais direto e sem firulas. Nesse quesito, destaque para Bumblefoot que, livre das amarras impostas por Axl Rose quando da sua passagem pelo Guns N’ Roses, mostra que é um monstro das seis cordas.

No fim das contas, podemos dizer que o Sons of Apollo fez um excelente show, que só não foi melhor devido aos momentos em que o clima esfriou um pouco quando dos solos de Billy e Derek. E da pouca presença de público. Impressiona como o público de Belo Horizonte, uma cidade famosa por sua tradição no rock e metal, vai tão pouco a shows do estilo. Não sei se isso se deve ao fato de a galera preferir pagar menos para ver shows de bandas cover, o fato de serem muitos shows na cidade esse mês – além do Sons of Apollo, o Pestilence tocou aqui no dia 6, Glenn Hughes toca dia 19, o Bloco dos Camisas Pretas faz seu evento, antes de carnaval, no dia 21, Pain of Salvation toca no dia 27 e Moonspell no dia 29 – ou se é má vontade mesmo.

De qualquer forma, o fato é que demorou muito para Belo Horizonte voltar ao radar de turnês de bandas de pequeno e médio porte e, se a presença de público continuar assim, a tendência é que cada vez menos shows do estilo aconteçam por aqui. O que seria uma pena.

O Rock Master não poderia encerrar essa resenha sem agradecer à Márcio Siqueira e sua MS BHZ por mais essa oportunidade de cobrir um evento realizado por sua produtora.