Paul McCartney em BH: carisma, simpatia e um festival de hits

(Fotos: Marcos Hermes)

Quem disse que todo inglês é carrancudo, sisudo e mal-humorado? Um deles, pelo menos, fugiu (e como!) à regra. O que dizer deste senhor, de 81 anos, que sobe no palco e, praticamente sem parar (à la Ramones), desfila uma enormidade de hits, com muita simpatia, carisma e profissionalismo?

Pois bem, Paul McCartney passou, como um tufão, mais uma vez por Belo Horizonte, com dois shows, em 3 (esgotado) e 4 (lotado) de dezembro, na Arena MRV. A turnê, agora, foi batizada Got Back.

O Rock Master esteve na segunda apresentação. E, como de costume, foi um encontro de gerações. Já na entrada, pais, filhos, avós e netos, devidamente uniformizados, demonstravam que os Beatles (e, claro, Macca) atravessaram os anos, e continuarão por aí, ainda por décadas.

Antes de Paul subir ao palco, o que já se tornou tradicional no show do ex-beatle. Um DJ, tocando músicas da banda, em versões diferentes, e um clipe bastante extenso no telão. Aí vale ressaltar. Obviamente, Paul esteve naquela que é considerada por muitos, a maior banda de todos os tempos. Mas o show é dele! Ainda assim, os Beatles sempre estão presentes.

Assim como os Wings, banda capitaneada por ele. Mas nos Fab Four não havia um cabeça. E por todos os lados estão John, George e Ringo. Além, claro, de dezenas de capas de discos e fotos antigas de Paul.

Com um certo atraso, o que não é comum em suas apresentações, o experiente músico sobe ao palco. E, de cara, já mostra a que veio, com ‘Hard Days Night’. A partir daí, um desfile de clássicos, entremeado a algumas músicas novas. Outras “um pouquinho novas”, como brincou McCartney.

Aliás, mais uma vez, assim como nas duas anteriores que esteve na capital mineira, Paul dá um show de simpatia. Não fala somente português, mas arranha, várias vezes, um “mineirês”. “Vou tentar falar português, um cadinho só”, disse ele. “Boa noite, véi!”, foi outra frase dita pelo músico. Além de “bom demais da conta.” E, claro, óbvio, não poderia faltar: “I came to say uai.”

A apresentação caminha, por quase três horas. Por ali, passam, além dos Beatles e dos Wings, músicas da carreira solo de Paul. Chama a atenção ainda que, em determinado momento, ele homenageia seu grande parceiro John Lennon, o chamado de “amigo” e tocando ‘Here Today’ (aliás, os dois fazem um ‘dueto’, utilizando a inteligência artificial, cantando ‘I’ve Got A Feeling’, com a voz de Lennon e sua imagem no telão). Mas, na sequência, ao oferecer Something a George Harrison, ele se refere ao autor da música como “irmão”.

Foram, novamente, 39 músicas neste dia, assim como no anterior. Mas algumas foram substituídas. Ficaram de fora, por exemplo, clássicos como ‘Can’t Buy Me Love’ e ‘Birthday’. Mas ele tocou ‘I Saw Her Standing There’. Nada que fizesse tanta falta, diante do que foi o show. Na plateia, famosos, como Milton Nascimento, Lô Borges, Hebert Vianna e integrantes dos Titãs, que tinham show marcado na cidade para o dia seguinte, e anônimos que, entre lágrimas e sorrisos, agradeciam a presença de Paul.

Claro, não faltaram as luzes de celulares acessas em ‘Let It Be’, as explosões em ‘Live and Let Die’ (pirotecnica na medida certa, aliás) e o choro em ‘Hey Jude’ (com aquele eterno na-na-na).

Um ponto bastante positivo foi a distribuição de água, que entrou em vigor através de portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU), tornando obrigatório o acesso gratuito à bebida em ‘shows, festivais e quaisquer eventos especialmente expostos ao calor, em períodos de alta temperatura’. Funcionou bem.

(Milton Nascimento, Charles Gavin, baterista dos Titãs, e Lô Borges)

Paul mais uma vez foi acompanhado por sua “banda fantástica”, como ele mesmo definiu. E realmente é. Eles tocam juntos há anos, e o entrosamento é evidente. No teclado, Paul “Wix” Wickens, Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr (bateria). Desta vez, ele ainda contou com um naipe de metais, que deu um brilho a mais. Aliás, o que também fica evidente, nos sorrisos e no olhar, é a admiração dos músicos pelo beatle.

Aliás, Abe Laboriel Jr. (filho do grande baixista Abe Laboriel), como de costume, é um show à parte. Toca muito, pesado, mantendo a pulsação da ‘cozinha’, além de segurar o vocal junto com McCartney. Em determinados momentos, toma para si o protagonismo do show, fazendo sua coreografia em ‘Dance Tonight’. Uma curiosidade: o baterista fez os dois shows tocando somente com a mão direita (à la Rick Allen, do Def Leppard).

Segundo a organização, o batera sentiu um incômodo no pulso e poupou seu braço esquerdo. Nada que atrapalhasse sua performance e nem que fosse notado pela maioria da plateia.

Ao final, depois de ‘The End’, aplausos, lágrimas e a certeza de que Paul ainda tem lenha para queimar. Afinal, aos 81 anos, com a empolgação e o entusiasmo que ele demonstra no palco, a última frase dita por ele promete se concretizar: “Até a próxima.”

O Rock Master agradece a Jozane Faleiro, da Luz Comunicação, e à FleishmanHillard, que possibilitaram a cobertura de mais um show.

Setlist (04/12/2023) – Arena MRV

A Hard Day’s Night (Beatles)
Junior’s Farm (Wings)
Letting Go (Wings)
She’s a Woman (Beatles)
Got to Get You Into My Life (Beatles)
Come On to Me
Let Me Roll It (Wings, com ‘Foxy Lady’, de Jimi Hendrix)
Getting Better (Beatles)
Let ‘Em In (Wings)
My Valentine
Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen a Face (Beatles)
In Spite of All the Danger (Quarrymen)
Love Me Do (Beatles)
Dance Tonight
Blackbird (Beatles)
Here Today (dedicada a John Lennon)
Queenie Eye
Lady Madonna (Beatles)
Fuh You
You Never Give Me Your Money (Beatles)
She Came in Through the Bathroom Window (Beatles)
Jet (Wings)
Being for the Benefit of Mr. Kite! (Beatles)
Something (Beatles, dedica a George Harrison)
Ob-La-Di, Ob-La-Da (Beatles)
Band on the Run (Wings)
Get Back (Beatles)
Let It Be (Beatles)
Live and Let Die (Wings)
Hey Jude (Beatles)

Bis:
I’ve Got a Feeling (Beatles, em ‘dueto’ virtual com John Lennon)
I Saw Her Standing There (Beatles)
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Beatles)
Helter Skelter (Beatles)
Golden Slumbers (Beatles)
Carry That Weight (Beatles)
The End (Beatles)

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