Resenha: Warfare Noise – Chakal, Mutilator, Sarcófago, Holocausto

É chover no molhado dizer que, nos anos 1980, Belo Horizonte era um celeiro para bandas de metal extremo. Na época, a Cogumelo Records foi pioneira em investir nestes grupos que faziam um som profano, barulhento, às vezes meio “bagunçado” e que chocava a geração anterior, dados os temas de suas letras. Em um estado conhecido pelo seu conservadorismo e religiosidade, além de uma tradição na MPB, bandas que vinham “agredir os ouvidos” com uma “barulheira infernal” e letras pregando a rebelião contra a religião e mesmo uma adoração ao cramunhão só podia fazer alguns torcer os narizes. Isso, por consequência, tornava esse material ainda mais atraente.

Em 1986 a Cogumelo reuniu quatro nomes que começavam a atrair atenção na cena e lançou a coletânea “Metal Warfare”, relançada recentemente em um formato especial. Além da embalagem slipcase, o álbum traz todas as letras das músicas presentes no CD, fotos de todas as bandas nas formações de então e um texto em inglês e português de Vladimir Korg, vocalista do Chakal, banda que abre a coletânea.

“Warfare Noise” é iniciada com “Cursed Cross”, que é uma mistura única de thrash/death e black metal, com muitas paradas e mudanças de ritmo. A pancadaria do Chakal, na época formada por Korg, Mark (guitarra), Destroyer (baixo) e Willian “Wiz” (bateria), continua em “Mr. Jesus Christ”, uma pancadaria meio “bagunçada” (por falta de termo mais adequado) com um solo que divide opiniões.

O Mutilator, outro nome clássico da cena do metal extremo de Minas Gerais, comparece com “Believers of Hell” e “Nuclear Holocaust”, onde o grande destaque são as guitarras de Alexander e Kleber, mas que são muito bem apoiadas pelos vocais de Silvio “S.D.N”, o baixo de Ricardo e a bateria de Rodrigo, trazendo um thrash metal pesado típico da época.

O grande nome de “Warfare Noise” viria a seguir. O Sarcófago – Antichrist (vocal), Butcher (guitarra), Incubus (baixo) e Leprous (bateria) – é a única banda que traz três contribuições para a coletânea, sendo estas “Recrucify”, “The Black Vomit” e “Satanas”. Das quatro bandas aqui apresentadas, o Sarcófago era a que se apresentava mais pronta, trazendo o som mais harmonioso – se é que podemos usar esse termo em se tratando de uma das bandas mais pesadas a história – e maduro, o que iria se confirmar em seu álbum de estreia, lançado no ano seguinte. Aqui vemos um Sarcófago mais cru, rápido e malvado.

Finalmente, coube aos rapazes do Holocausto – Rodrigo “Fuhrer” (vocal), Valério “Exterminator” (guitarra), Anderson “Guerrilheiro” (baixo) e Nedson “Warfare” fechar o festival de pancadaria. Única banda aqui cujas letras são em português, o Holocausto mostra em “Destruição Nuclear” e “Escarro Napalm” um thrash que flerta bastante com uma sonoridade proto-black metal que seria mais desenvolvida – novamente, por falta de um termo melhor – por bandas norueguesas como o Mayhem.

“Warfare Noise” é uma pérola do metal extremo brasileiro, trazendo os primeiros momentos de bandas que mais tarde ajudariam a fazer a história do gênero – com destaque óbvio para o Sarcófago – com a produção “suja” e a energia características da época. É daqueles álbuns que deve ter um lugar garantido na coleção de qualquer um interessado em conhecer os primórdios do metal extremo.

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