Olha aí mais uma colaboração do Rodrigo ‘Piolho’ Monteiro para o Rock Master!
Depois de seis anos inativo, em 2013 o Trouble voltou à ativa para (até o momento) seu último álbum. “The Distortion Field” não teve uma boa recepção junto à crítica e, especialmente, aos fãs fiéis da banda, já que o álbum se distancia, e muito, do doom metal pelo qual o Trouble ficou famoso.
Para aqueles que não leram nenhuma das resenhas dos álbuns anteriores do Trouble aqui no Rock Master (que podem ser conferidas aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), o Trouble foi formado no final dos anos 1970 em Illinois, EUA, por Eric Wagner (vocal), Bruce Franklin e Rick Wartell (guitarra), Sean McAllister (baixo) e Jeff Olson (bateria). Inicialmente, a banda fazia um som bem no estilo do Black Sabbath, ou seja, arrastado, soturno, com rompantes de rapidez e – aí reside a grande diferença – letras com temática cristã, o que quase os rotulou como um grupo de white metal.
De 1984, lançamento de seu primeiro álbum, até 2013, o Trouble, como quase todas as bandas de heavy metal que transitam no underground, passou por uma série de problemas, mudanças de formação e afins. Elas podem ter contribuído – ou não – para que o Trouble nunca tenha tido seu “pulo do gato” e passado a alcançar um público maior. Talvez essa tenha sido a ideia por trás de “The Distortion Field”, inclusive, pois ele traz um material bem menos denso, arrisco a dizer mais acessível, do que seus trabalhos anteriores. E isso não é ruim. Só não é algo que lembre os clássicos trabalhos da banda.
Outro fator que certamente contribuiu para essa mudança na sonoridade do Trouble tem a ver com a formação que gravou “The Distortion Field”. Dos integrantes originais, apenas a dupla Bruce e Rick se manteve. Eric foi substituído por Kyle Thomas, que é um bom vocalista, mas não tem aquela voz rouca/agressiva de seu predecessor e a bateria ficou à cargo de Marko Lira, com a dupla de guitarristas se revezando no baixo.
O resultado de tanta mudança traz um Trouble bem diferente do que os fãs se acostumaram em “The Distortion Field”. Isso se reflete também na temática das letras. Se antes o Trouble se dedicava à temática cristã (ainda que não àquela chatice de pregação), cortesia de Eric Wagner, aqui os temas são mais variados e quase não remetem ao cristianismo que marcou a carreira da banda. O fato de a maioria das letras de “The Distortion Field” terem ficado à cargo de Kyle Thomas também explica essa mudança.
Falando do álbum em si, “The Distortion Field” é um disco agradável, mesmo parecendo algo que qualquer banda de hard/heavy rock poderia fazer. Se “When the Sky Comes Down”, faixa que abre os trabalhos, ainda traz muita semelhança com álbuns mais recentes do Trouble, como “Plastic Green Head”, não se pode dizer o mesmo do resto.
O que se ouve de “Paranoia Conspiracy” até “Your Reflection”, faixa que fecha “The Distortion Field” é uma mistura de rock clássico com southern rock e boas doses do que as bandas de Seattle faziam nos anos 1990, com destaque para Alice in Chains e Soundgarden. Músicas como “Sink or Swim”, um dos destaques individuais do trabalho e “Have I Told You” poderiam enganar os ouvidos desavisados e se passar por uma música das supracitadas. Ou mesmo do bom Temple of the Dog, projeto que reuniu membros de Pearl Jam e Soundgarden.
Apesar de todas as críticas, o vocal de Kyle Thomas funciona bem aqui. Claro, não tem como compará-lo com Eric Wagner, já que são cantores com estilos vocais bem diversos. Mas, na nova proposta sonora do Trouble, ele se encaixou bem. Se bateria e baixo aparecem bem discretos, as guitarras de Bruce e Rick tem bons momentos, com alguns solos e riffs bem bolados. No geral, tudo funciona direitinho aqui.
No fim das contas, pode-se dizer com segurança que “The Distortion Field” é um bom trabalho do Trouble. O grande problema aqui é que a banda acostumou seus fãs com uma sonoridade bem diversa daquela apresentada em seu derradeiro (até o momento) álbum. O que alienou parte de seu público. Fãs de um rock pesado, beirando o heavy metal e com certa influência do grunge dos anos 1990, no entanto, podem ter certeza de que este é um álbum que os agradará.
Com 13 faixas e girando em torno dos 57 minutos, “The Distortion Field” foi lançado por aqui pela Hellion Records.
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