Resenha: “Vinterskugge”, Isengard

Olha aí mais uma colaboração do Rodrigo “Piolho” Monteiro para o Rock Master!

Gylve Fenris Nagell, mais conhecido como Fenriz é uma das figuras mais importantes do cenário do metal extremo. Ao lado de figuras como Euronymous (o falecido Øystein Aarseth, guitarrista e fundador do Mayhem) e Varg Vikernes (único membro do Burzum e assassino de Aarseth), Fenriz, com sua banda, o Darktrhone (na verdade, uma dupla), foi um dos pioneiros do que viria a se tornar, no início da década de 1990, o movimento conhecido como Norwegian Black Metal.

Fenriz concebeu o Darkthrone em 1986. Na época, a banda se chamava Black Death e sua proposta era fazer, como seu nome indica, death metal. Isso viria a se concretizar com o primeiro álbum do já Darkthrone, “Soulside Journey“, de 1991. Logo após, o Darkthrone assumiu a veia Norwegian Black Metal que caracterizaria seus álbuns seguintes.

Paralelamente, no entanto, Fenriz mantinha um projeto só seu. Isengard, cujo nome foi retirado de “O Senhor dos Anéis” tinha uma proposta bem diferente do Darkthrone e enveredava para uma sonoridade mais calcada no folk metal, ainda que agregasse também elementos do black e mesmo do death metal. Responsável por todos os instrumentos e vocais do Isengard, Fenriz manteve o projeto bastante ativo até finalmente lançar o álbum de estréia, “Høstmørke“, em 1994.

De 1989 a 1993, o Isengard lançou três demos que foram compiladas em 1994. Essa coletânea foi relançada no ano passado e chegou aqui em 2019 pela Hellion Records.

Vinterskugge” se constitui das demos “Vandreren“, de 1993, “Spectres Over Gorgoroth“, de 1989 e “Horizons“, de 1991. O motivo de não terem organizado a coisa em ordem cronológica me escapa, mas, certamente, foi algo proposital que apenas os responsáveis podem responder.

De qualquer forma, “Vinterskugge” tem de tudo um pouco. Na primeira parte, podemos destacar a faixa título – e que abre os trabalhos – com seu andamento puxado para o doom metal dos anos 1980, a instrumental “Gjennom Skogen til Blaafjellene“, que se constitui, basicamente, de guitarras tocadas de maneira simples, mas cativantes e “Naglfar“, a música mais épica do primeiro terço de “Vinterskugge“.

Spectres Over Gorgoroth” é o recheio old school da coletânea. São cinco músicas curtas – a maior tem 3 minutos – onde tudo parece bem tosco e, portanto, autêntico. Os instrumentos são tocados de maneira competente, mas simples, por Fenriz, cujos vocais gritados e quase ininteligíveis – já que ele canta em norueguês – harmonizam bem com a proposta aqui apresentada. Até a produção é bem básica, algo que era típico dentre as bandas de black metal daquela época. É a parte mais atraente da coletânea, talvez por se constituir justamente dos primeiros registros do Isengard em estúdio.

Horizons” fecha os trabalhos. Ela começa com “The Fog“, que é um registro bastante padrão pro black metal da época. Lembra muito, por exemplo, “Funeral Fog“, do Mayhem. A coisa muda totalmente de figura em “Storm of Evil“, que é uma música que investe em uma sonoridade muito mais convencional, um rock clássico, com Fenriz fazendo vocais limpos e em inglês. É, de longe, a faixa mais agradável de todo o álbum. Se isso é bom ou ruim, cabe ao ouvinte julgar.

As coisas voltam a normal na instrumental “Bergtrollets Gravferd“, algo bem na linha do atmospheric black metal, onde ouve-se, basicamente, teclados, e se encerra com “Our Lord will Come“, onde Fenriz investe novamente em vocais limpos e em inglês. Aqui, no entanto, a sonoridade pende mais para algo na linha do doom.

No fim das contas, “Vinterskugge“, apesar de um problema aqui, outro ali, é um registro bem legal e vale muito a pena não só para fãs de Isengard e da obra de Fenriz como um todo, mas, também para aqueles pesquisadores que se interessam pelas origens de um dos mais influentes – e polêmicos – movimentos musicais do mundo.

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