Fechamento do Stonehenge repercute no rock de BH e até fora do estado

O fechamento do Stonehenge Rock Bar, uma das casas de rock mais importantes de Belo Horizonte, gerou comoção nas rede sociais, entre os frequentadores e, principalmente, entre os músicos da capital mineira. O encerramento das atividades foi anunciado neste sábado (10/4), em postagem do proprietário, Rodrigo Cunha, o ‘Sapão’.

Mário Testoni Júnior, tecladista da histórica banda Casa das Máquinas, de São Paulo, tocou no Stone algumas vezes, e também falou sobre o fechamento. “Não dá pra gente perder mais um espaço, temos poucos espaços no Brasil pra tocar, de forma legal, que tem uma galera que curte, que acompanha, que veste a camisa preta. Não dá para aceitar de braço cruzado. O Casa tá em fase de lançar um novo trabalho depois de mais de 40 anos e estamos parados. Como vou lançar um produto depois de 44 anos e não acontecer nada? Não posso deixar de fazer alguma coisa com esse lançamento”, disse.

Ele ainda deixou no ar uma proposta. “Rodrigo é meu amigo e espero que ele tenha fechado parcialmente. O Casa tocou por algumas vezes lá. Espero que, do fundo do meu coração, que se ele topar reabrir a casa, é só me ligar que o Casa fará, com todo o prazer, alguma coisa pra ajudar. Se a casa quiser reabrir, pode contar com o Casa.”

Outra banda histórica, que também se apresentou no Stone foi a Patrulha do Espaço. O baterista Rolando Castello Junior também lamentou o fechamento. “Essa peste maldita é tão desgraçada que ademais de ceifar vidas, ceifa negócios, como foi o caso de minha segunda casa em Minas Gerais. Um pico onde também tocamos quase que religiosamente uma vez por ano, o Stonehenge, de meu irmão Rodrigo Cunha. Digo irmão porque, há anos, quando estava passando momentos dificílimos em minha vida, ele foi um dos poucos que quase imediatamente me socorreu, sem pestanejar e nem vacilar. Me enviou uma grana no ato em que soube de minhas penúrias.”

“Amigos como estes são perdas muito difíceis de assimilar, é uma porrada que levamos na alma. Sei que muitos estão sofrendo por perdas, por solidão, pela falta de trabalho, por desesperança, por se sentirem impotentes ante essa situação horrível que vivemos, criadas pelo vírus maldito.

Rafael Dinnamarque, baixista e vocalista da banda Dinnamarque lamentou o fechamento de mais um espaço voltado para a cultura. “Triste a gente saber que mais uma casa de show está fechando, independentemente de ser mais rock ou não. Menos um espapo para o pessoa da música trabalhar. É triste, ainda mais uma casa com 20 anos no mercado”, disse.

“Comecei frequentando, e depois de anos tocando e frequentando… É triste pra gente que é da música, para o pessoal que é dono da empresa… No nosso ramo da música, a coisa está bem precária e a gente não sabe o que vai acontecer aí para frente. Tempos sombrios pra gente da música.”

Guilherme Castro, guitarrista e vocalista do Somba, também falou sobre o fechamento. “É uma pena, a casa que a gente do Somba e do pessoal da Orquestra tocou tantas vezes. É uma pena grande, de forma geral, para o setor. Não tem setor que sobreviva dois anos impossibilitado de trabalhar. Sem nenhum incentivo ou com incentivos minguados”, disse.

O músico ainda ressaltou a falta de ajuda dos governos. “O que salta aos olhos é a falta de sensibilidade de todas as esferas de poder. Dá pra aliviar um pouco a esfera municipal, porque está fazendo alguma coisa com orientação científica. Mas poderia ter incentivo com isenção de impostos, contas. Algum tipo de política para o setor, porque este é o setor mais impactado. Fizeram a Lei Aldir Blanc, como uma espécie de cala a boa, para tapar um buraquinho no meio de uma cratera. A esfera estadual e federal, não dá. Como pode o poder ser tão insensível a uma cadeia que gera tanto imposto e que está completamente parado, sem nenhum tipo de incentivo. Quem trabalha aí não é só músico, tem empresário, garçom, cozinheiro, segurança, autônomos. Toda uma cadeira produtiva que está sendo solapada. Está acabando. E infelizmente não vejo muita solução”, previu.

Outro que falou sobre o fechamento foi o baterista Flávio Freitas, que já tocou dezenas de vezes no Stonehenge. “O fechamento do Stone deixa um buraco em BH. Era frequentador desde 1999 e passei a tocar lá em 2005. Fiz mais de 100 shows lá, com certeza. É como perder um parente. Me deixou muito chateado, estou ainda muito abalado. O Sapão é um cara que, qualquer projeto que eu queria fazer, ele aprovava, deixava a casa sempre aberta pra gente. Já toquei lá com o Pesta, que á banda mais pesada que eu toco atualmente, e até com a TDV, que é uma banda de soul music dos anos 70. Ele abria a casa pra todos.”

Flávio relembrou um de seus momentos no Stone. “Toque em todos os teatros de BH, com megaprodução. Mas o melhor show que fiz na vida foi lá, com a Pesta, no inferninho, na Virada do rock. A gente parou de tocar e a galera começou a gritar: ‘Satã, Satã”… Ficamos muito felizes. Toquei com várias bandas lá (Shiron the Iron, Pesta, Free as a Beatle, Mentol, TDV, Duovox, Volume 4 e outras), e eu estou meio órfão. Estou muito chateado, muito abalado. Tomara que o Sapão volte de alguma maneira, porque a abertura que ele dava para as bandas fará muita falta. Vivi muita coisa lá dentro, estou muito emocionado.”

Thiago Leão, guitarrista da banda Mentol, lamentou bastante o fechamento. “É um bar que marcou várias gerações de BH, pra todo mundo que curte rock, seja das bandas locais, seja dos clássicos. Lá sempre espaço pra tudo, de cover a autoral. Nós da Mentol vivemos 15 anos lá dentro, lançamentos CD, fizemos inúmeros shows e eventos. Com certeza vai deixar muita saudade. Quem viveu aquilo, na época áurea, com inferninho, piscina, sempre com muito charme e sempre com muito rock’n’roll”, lamentou. A Metol, inclusive, gravou um clipe para a música blues da hipocrisia, em 2013, no Stone.

Anderson Vaca, baixista e CEO da Pesta, lamentou outro aspecto do encerramento das atividades da casa. “O fechamento do Stone afeta de forma significativa o movimento underground da cidade, até como veículo de fomentação e divulgação das bandas, não só da cidade, mas de outras cidades. Há tempos, o Stone estava quebrando um paradigma que vinha desde o final dos anos 90, com as casas que existiam aqui. Em determinado momento, começou-se a privilegiar o cover. O Stone, há uns 15 anos, começou a olhar também para as bandas autorais. E foi, aos poucos, mesclando. E foi abrindo o cenário para essas bandas que estava começando, que não tinham canais de divulgação, não tinham produtor, estavam buscando espaço para lançar coisas”, disse.

“O Stone, como uma das pioneiras nisso, trouxe uma proposta de mudança e influenciou muitas outras. Incentivou o surgimento de bandas autorais e o público também se beneficiou. O Stone contribuiu, e muito, para a produção cultural e musical da cidade. É um marco. Parafraseando o André Cabelo: ‘O Stone fecha, mas fica na história, pela sua enorme contribuição para a cena cultural da cidade’. E a história do Pesta se confunde com a história do Stone. A banda surgiu e foi fomentada lá. Somos eternamente gratos ao Sapão, pelo apoio e pelo carinho que ele sempre teve por nós. O doom metal cresceu na cidade, não só pelo Pesta, mas pelo stone e pelo Rodrigo Cunha. Só posso dizer, de coração, estamos juntos, irmão, e para o que precisar, o Pesta sempre estará aí para ajudar.”

NA INTERNET

Nas redes, várias bandas e músicos também se manifestaram. A banda Cartoon postou uma mensagem, agradecendo o apoio. “Stonehenge, você é muito mais que uma simples casa de shows ou uma bar de rock. Você representa uma geração, cultura e diversidade. Graças à sua parceria, o Cartoon realizou grandes projetos que não seriam possíveis sem você. Te amamos e agradecemos por tudo.”

O guitarrista Auder Júnior, da Audergan e do Led III, também se despediu. “O Stone fez parte da história por muitos anos, gravei o DVD da Audergang lá. Quero crer que o Stone ficará hibernado e assim que tudo passar, vai ressurgir e juntos faremos outros projetos. Triste, mas com esperança”. Marcelo Loss, ex-baixista e vocalista do Concreto, e atualmente na Loss, deixou seu recado. “Até breve Stonehenge! Gratidão!”, e teve a companhia de Adriano Fidélis, ex-guitarrista do Concreto. “Obrigado, Stonehenge, por tantos momentos inesquecíveis!” Os dois, inclusive, tocaram no Stone com o baterista Vinny Appice, ex-Black Sabbath.

Alexandre da Matta, da Banda The Black Dogs e do seu Madruga, deixou seu recado. “Gratidão. Dá para escrever um livro só com histórias do Stone. Vai deixar saudade demais.” Fran, baixista do Lurex, foi outro a lamentar. “Muita gratidão ao Stonehenge e toda sua equipe. Sem acreditar no encerramento das suas atividades. Até breve Stone…”

O guitarrista Sergio WV relembrou momentos. “Virada do Metal, Stone Metal Fest, Helios Fest… Fora os shows com bandas de fora. Difícil lembrar tantos eventos que tocamos no Stonehenge. Mais um fechamento, mais uma triste notícia nessa época sombria. Obrigado por tudo e com certeza estaremos juntos de novo fazendo muito barulho!”

O vocalista Marcus Vinicius também deixou seu agradecimento. “Uma casa do tal rock and roll que se fecha, e junto também se fecha boa parte da democracia musical de BH.”

A banda Snowblind, que faz cover do Pearl Jam, também registrou sua despedida. “Que cena triste… Quase 22 anos de banda e uns 17 que o Stonehenge faz parte da nossa história! Grande perda pro cenário do rock de BH. Esperamos que esse ‘até logo’ seja breve e que possamos voltar a ter uma vida ‘normal’ rodeada de grandes músicos e amigos!”

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